JBS compra granos de areas deforestadas en Brasil

Sociedade civil pede que JBS seja rebaixada da classificação climática

Comunicado de imprensa

Proteção Animal Mundial, em parceria com a Mighty Earth e outras organizações, reivindicam que, apesar dos enormes impactos climáticos das operações da JBS, incluindo o aumento do desmatamento, o grupo de divulgação ambiental CDP elevou a pontuação sobre Mudanças Climáticas da gigante brasileira da carne

São Paulo, 31 de março de 2023 – A Proteção Animal Mundial faz parte de coalizão global de quase vinte grupos da sociedade civil para pedir ao CDP (conhecido anteriormente como Carbon Disclosure Project) revogue a recente pontuação “A-” e o status de "Liderança" concedido à gigante de processamento de carne JBS por seu desempenho no enfrentamento das mudanças climáticas. Liderados pela organização Mighty Earth, alguns dos maiores e mais atuantes grupos, incluindo também o Instituto de Agricultura e Política Comercial (IATP), a Compassion in World Farming, a Soil Association e a Rainforest Foundation Norway, uniram forças para chamar a atenção para a alta classificação.  

Para a Mighty Earth, a JBS está longe de ser uma liderança no combate às mudanças do clima, a classificação concedida pelo CDP é errada e enganosa. Ainda assim, a JBS vem promovendo essa desacreditada pontuação como forma de atrair novos investidores. “Ao invés disso, a empresa deveria estar mais preocupada em divulgar para a sociedade as suas emissões de gases de efeito estufa dentro do ´Escopo 3´, que concentra a maior parte de seu impacto climático, e o número de bovinos e outros animais que abate anualmente, trazendo transparência para as suas alegadas emissões”, afirma o diretor da Mighty Earth no Brasil, João Gonçalves, lembrando que desde 2017 a JBS não divulga os seus números de abate.

Em carta enviada ao fundador do CDP, Paul Dickson, as organizações signatárias listam uma série de fatores que justificam o rebaixamento da JBS. Entre eles, está a falta de um plano significativo de descarbonização, apesar do comprometimento da empresa em zerar as suas emissões líquidas até 2040. Pela falta de transparência da JBS, a Divisão Nacional de Publicidade do Better Business Bureau (BBB), nos Estados Unidos, considerou que as promessas da empresa são infundadas. Além disso, inúmeros relatórios de organizações como o realizado em parceria com a Repórter Brasil (disponível aqui), Global Witness, Greenpeace, Environmental Investigation Agency, entre outras, relatam as contínuas ligações da JBS com o desmatamento ilegal na Amazônia e no Cerrado, operações ilegais em Terras Indígenas (TI) e compras ligadas a abusos de direitos humanos. Veja aqui todas as alegações contidas na a carta

Para a Proteção Animal Mundial, as mudanças climáticas devem ser combatidas com a diminuição da produção animal e a criação com alto nível de bem-estar. Pontos que claramente não são adotados pela JBS. “Hoje, aproximadamente dois terços da soja produzida no Brasil, uma das principais causas do desmatamento, e consequentemente das emissões brasileiras de gases de efeito estufa, é destinada à alimentação de animais, principalmente aves e suínos. Sendo a JBS um dos principais clientes dos fornecedores de grãos”, afirma a diretora-executiva da Proteção Animal Mundial no Brasil, Lisa Gunn. 

Enquanto isso, a JBS promove a melhora da sua nota de mudanças climáticas no CDP para investidores e outras partes interessadas. Sistema de divulgação global usado por investidores, empresas e governos para medir e agir sobre seus impactos climáticos e ambientais, o CDP é amplamente reconhecido pelo seu alto padrão em relatórios ambientais, mas sua abordagem depende de respostas autodeclaradas, levantando preocupações sobre a precisão das pontuações concedidas às empresas.  

De acordo com o CDP, as empresas que obtêm pontuação nível de “Liderança” devem “demonstrar liderança ambiental, divulgando ações sobre mudanças climáticas, desmatamento ou segurança hídrica” e as empresas premiadas com A- estão “implementando as melhores práticas atuais”. No caso da JBS, isso não poderia estar mais longe da verdade. Diferentes análises mostram que a JBS é a empresa que mais emite gases de efeito estufa no setor de pecuária e a maior impulsionadora do desmatamento no Brasil. Assim, a classificação equivocada dada pelo CDP, que não reflete com precisão o impacto ambiental e climático da JBS, coloca em risco a própria reputação do grupo, além de implicações mais amplas dessas pontuações desacreditadas para investidores e outras partes interessadas.