Grupo de vacas malhadas (preto e branco) ao ar livre, deitadas e em pé na grama

Seu banco tem linhas de crédito para a agropecuária sustentável?

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No país do agronegócio, o bem-estar animal ainda é um tema esquecido pelos principais bancos europeus e brasileiros

Um relatório global da Proteção Animal Mundial alerta que os dez principais bancos europeus investem em empresas com alto risco de serem associadas ao desmatamento na Amazônia e no Cerrado, por conta da produção de gado e plantações de soja que são destinadas para a produção de ração.

Mesmo com diretrizes e uma cultura de incentivo para adoção de práticas mais sustentáveis na produção de alimentos, o “Relatório da Amazônia: Big meat. Big bucks. Bigger harm” demonstra que as ações das instituições financeiras ainda são ineficazes para garantir o bem-estar animal e um sistema de produção verdadeiramente mais sustentável.

Os números são alarmantes. Você sabia que uma área equivalente a quase 2 mil campos de futebol foi desmatada na Amazônia todos os dias em 2019? Os dados são do Relatório Anual do Desmatamento do Mapbiomas, o qual revela que a Amazônia e o Cerrado somaram 96,7% da área desmatada no Brasil no mesmo ano.

Visão aérea da Amazônia com pontos de fogo, causados pelo desmatamento

Além de destruir habitats, o desmatamento tira o lar de milhões de animais silvestres.

Entre 2013 e abril de 2020, quase US$ 100 bilhões foram destinados a produtos financeiros, incluindo empréstimos, investimentos e subscrição de ações e emissões de títulos, para financiar sistemas com baixos índices de bem-estar animal.

A produção de soja utilizada como ração para o gado, frangos e suínos no Brasil, China e Europa é uma das grandes vilãs do desmatamento.

O modelo insustentável e cruel da agropecuária industrial traz muitos problemas para a saúde pública. As monoculturas de soja usam grandes quantidades de pesticidas que afetam os ecossistemas e as comunidades ao seu redor. A intensificação dos sistemas de criação animal tem demandado grandes quantidades de antibióticos, que são usados de forma preventiva em criações de frangos e suínos para manter a alta produtividade, o que aumenta os riscos de surgimento de bactérias multirresistentes - que matam aproximadamente 700 mil pessoas por ano.

No caso específico do bioma amazônico, o mais impressionante é a criação de bovinos. Apesar de ser em sistemas extensivos (pasto), muitos animais acabam sendo transportados por longas distâncias no território brasileiro e exportados vivos, em viagens que levam dias, para serem abatidos em outros países, como o Líbano.

O relatório demonstra que a realidade das empresas está muito distante das boas intenções das políticas para evitar a destruição de biomas e garantir a implantação de “fazendas sustentáveis”. O Brasil tem um papel crucial na exportação de grãos que, em grande parte, é utilizado para alimentar aves e suínos criados em sistemas industriais intensivos, gerando um impacto significativo na segurança alimentar mundial.

Nesse contexto, é necessário que os bancos incentivem modelos de negócio que façam uma transição do sistema de pecuária intensiva para a criação de animais em menor escala, com altos níveis de bem-estar e estimulem a produção de uma variedade de proteínas vegetais que irá balancear a deita do planeta.

Essa mudança do modelo atual para uma agricultura mais sustentável, o apoio às pesquisas de carnes cultivadas e a mitigação dos impactos negativos das mudanças climáticas exigem novas linhas de crédito para evitarmos os riscos à saúde pública, perda de biodiversidade e o respeito às comunidades indígenas.

Tolerância zero para o desmatamento e sofrimento dos animais

Alguns bancos, incluindo o ABN AMRO, o Rabobank (Holanda) e o Standard Chartered (Reino Unido) já sinalizaram algumas mudanças. No entanto, há pouca transparência na prática.

Desde 2018, o Rabobank tem incluído diretrizes em prol do bem-estar animal em sua Política de Sustentabilidade, mas precisa evoluir. O Rabobank opera há mais de 30 anos no país e é especializado em soluções financeiras para a cadeia de alimentos e o agronegócio.

Para se tornar parte da solução, trabalharemos para que as instituições financeiras façam uma revisão de suas políticas corporativas de sustentabilidade e/ou insiram critérios e indicadores para:    

  • Gerar a rastreabilidade até o ponto de origem da cadeia produtiva, do bem-estar animal em toda a cadeia produtiva, tolerância zero para o desmatamento, triagem e engajamento de stakeholders, avaliação e exclusão de infratores ilegais e demonstração de transparência em seus relatórios anuais;
  • Apoiar a transição para um sistema alimentar humano e sustentável, implementando no mínimo os padrões de bem-estar animal da fazenda FARMS (Farm Animal Responsible Minimum Standards), reduzindo pela metade os investimentos em proteína animal não sustentáveis até 2040 e eliminando gradualmente o apoio a monoculturas como a soja usada para alimentar sistemas industriais intensivos, como ração para animais de fazenda.

O que você pode fazer?

O Guia dos Bancos Responsáveis (GBR) é uma coalizão de organizações da sociedade civil liderada pelo Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec) e avalia as políticas ambientais, sociais e de transparências dos nove maiores bancos do Brasil. 

No mês passado, integramos a coalização e, a partir da próxima avaliação, o bem-estar animal passará a ser um tema independente na avaliação de políticas de 2022.

No site você pode avaliar o seu banco e cobrar uma atitude mais responsável. Além disso, você pode enviar uma reclamação ao banco ou optar por uma instituição que invista de forma mais consciente e em prol dos animais e do planeta.

Saiba mais