Imagem de pescadores em um barco no meio do mar caçando golfinhos em Taiji

Vozes silenciadas: o sofrimento dos golfinhos em Taiji

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A sangrenta tradição da caça aos golfinhos em Taiji e os seus impactos no bem-estar do animal, no turismo e no meio ambiente.

Taiji é o nome de uma pequena cidade no Japão que mantém uma triste prática cultural de capturar e matar centenas de golfinhos e baleias no oceano. Todos os anos, durante 6 meses (de setembro a março), fica aberta a temporada de “caça aos golfinhos em Taiji”, autorizada pela Agência de Pesca do Japão.

Durante essa época, é permitido usar embarcações para encurralar, caçar e matar esses animais que, por sinal, não fizeram nada para os humanos. A grande maioria dos golfinhos caçados são mortos para que se comercialize sua carne, mesmo não sendo um alimento popular no Japão. Outra porção dos animais, vai atender à indústria de turismo e, infelizmente, passarão a vida inteira em cativeiro fazendo apresentações para o público.

O valor de um golfinho vivo é muito maior do que o valor da sua carne, fazendo com que o mercado dos delfinários seja a principal motivação para a caça em massa. É estabelecida uma cota de aproximadamente 1.800 animais por ano. Na temporada de 2023-2024 foram mortos 401 mamíferos marinhos e outros 14 foram capturados para viver em cativeiro. 

Ao todo, foram 4 espécies computadas no massacre e os 14 indivíduos que vão atender ao mercado de delfinários são golfinhos nariz-de-garrafa, o mamífero marinho mais comum nesses espaços. 

Nós lançamos recentemente o relatório "Ondas do lucro: como a indústria do turismo se aproveita da caça aos golfinhos em Taiji" que investigou a relação da pesca em Taiji com os delfinários e foi identificado que 107 desses estabelecimentos que vendem entretenimento com golfinhos em 19 países tem sido associados à compra de golfinhos proveniente do massacre em Taiji.

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O mais alarmante é que grandes empresas de viagens, como Klook, TUI, Trip.com e Get Your Guide, oferecem bilhetes para esses delfinários. Golfinhos são inteligentes, socialmente complexos e sencientes, são capazes de interpretar o que está acontecendo no ambiente e sentir emoções como dor e medo.

A temporada de caça é um período insuportável para os animais da região, além de lidar com a perda de membros do grupo, estão sujeitos à crueldade física e psicologia por estarem em um ambiente hostil, com ruídos das embarcações, redes de pesca e água avermelhada por conta do sangue de outros golfinhos. E como se não bastasse esse cenário trágico, alguns ainda vão continuar sofrendo ao longo da vida em pequenos tanques com cloro e sem a possibilidade de realizar comportamentos naturais da espécie.

O preço do entretenimento

Os animais que são mantidos em tanques nos parques temáticos passam por uma rotina de treinamento bastante cruel e intensa, muitas vezes são privados de comer para que o alimento seja a recompensa do treino. Ao longo do processo, esses animais aprendem a pular em argolas, erguer os treinadores pela nadadeira fora da água e a interagir com humanos recebendo alimento ou posando para fotos.

Os golfinhos são animais silvestres e, por conta disso, não interagem naturalmente com humanos, nossa presença é um fator de ameaça e estressante para eles. Quando um animal desse é colocado para interagir com pessoas, pode apresentar comportamentos inesperados e agressivos, como forma de defesa.

Veja mais sobre o assunto Animal silvestre não é entretenimento e seja um tursita amigo dos animais!

Os impactos no meio ambiente

Além dos problemas de maus tratos mencionados e da questão de segurança das pessoas envolvidas na atividade turística, existe uma preocupação ambiental com a caça em Taiji. A retirada em massa de animais de um ecossistema causa desequilíbrio no ambiente ao perturbar a rede de interação ecológica entre os organismos. Golfinhos são predadores de topo de cadeia e sua retirada altera toda a teia alimentar. 

Por fim, gostaria de indicar o documentário “The Cove” que trata da triste matança em Taiji. É importante assistir para entender e visualizar o tamanho e complexidade da crueldade animal. 

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