CoP20 da CITES: bicudo tem comércio internacional proibido e preguiças ganham proteção adicional
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A CoP20 da CITES proibiu o comércio internacional do bicudo sem fins conservacionistas e ampliou a proteção das preguiças de dois dedos. Entenda o que muda e por que a Proteção Animal Mundial considera as decisões importantes, mas ainda insuficientes para proteger a vida silvestre.
A CoP20 da CITES, realizada em Samarcanda no Uzbequistão, anunciou medidas importantes para espécies brasileiras. As decisões devem ser comemoradas, mas, segundo a Proteção Animal Mundial, ainda não resolvem totalmente as ameaças enfrentadas pelos animais na natureza e no comércio.
A CITES é a Convenção sobre o Comércio Internacional de Espécies da Fauna e Flora Silvestres Ameaçadas de Extinção e é um dos tratados ambientais mais relevantes do mundo. Mais de 40.900 espécies, incluindo 6.610 animais, estão protegidas contra exploração excessiva graças a este acordo internacional.
Comércio do bicudo é proibido internacionalmente sem fins de conservação
O bicudo é uma das aves mais pressionadas pelo comércio de fauna no Brasil. De canto suave que lembra uma flauta, pertence ao grupo dos passeriformes e já foi abundante no Centro Oeste e no Norte do país.
Hoje, porém, é uma das aves mais difíceis de encontrar na natureza. Estima se que apenas de 100 a 250 indivíduos adultos permaneçam livres, enquanto mais de 204 mil foram registrados em cativeiro.
Na CoP20 da CITES, o comitê de animais aprovou a proibição do comércio internacional sem justificativa científica ou conservacionista. A decisão reconhece a gravidade da ameaça e busca reduzir a pressão causada pela procura mundial de aves canoras.
Júlia Trevisan, coordenadora de Vida Silvestre da Proteção Animal Mundial, ressalta que a vitória é importante, mas não resolve o problema principal. “Celebramos a proibição do comércio internacional, mas ainda há muito o que ser feito para desestimular o consumo no mercado interno. Animais silvestres não devem ser tratados como pet. A demanda é o que motiva a escassez da espécie na natureza.”
Além do risco populacional, o cativeiro impõe sérios impactos ao bem estar dos animais, como estresse crônico, comportamentos estereotipados, dietas inadequadas e maior exposição a doenças. Entre 2015 e 2018, somente no Brasil, foram vendidos mais de sete mil bicudos, tornando a espécie uma das mais exploradas no mercado pet.
Preguiças de dois dedos ganham mais proteção, mas exploração continua
A CoP20 também aprovou o aumento de proteção para duas espécies de preguiça de dois dedos, muito exploradas em atividades turísticas e no mercado pet.
A partir de agora, qualquer exportação só poderá ocorrer com licenças rigorosas que comprovem que a atividade não prejudica as populações na natureza.
Apesar de classificadas como “Pouco Preocupantes” pela IUCN, as preguiças enfrentam ameaças crescentes: desmatamento, incêndios, retirada de filhotes para selfies turísticas, comércio ilegal e exploração internacional. Filhotes são arrancados das mães para serem vendidos como pets ou usados em pontos turísticos.
Júlia destaca que, mesmo com a proteção aumentada, a exploração persiste. “O nível de proteção vai aumentar, mas o comércio ainda será permitido. É uma vitória parcial porque a exploração continua. A reprodução em cativeiro é rara, não há criadouros autorizados no Brasil, mas a demanda cresce.”
Países da América Central e do Sul seguem exportando legalmente. Estados Unidos, Japão, Emirados Árabes, Noruega e Índia aparecem como principais importadores. Há registro até de voos fretados transportando preguiças ilegalmente. No Brasil, centros de reabilitação receberam mais de cem animais apenas entre 2020 e 2025.
Roberto Vieto, consultor de bem estar animal da Proteção Animal Mundial, reforça que o comércio legal alimenta o ilegal. “Relatórios mostram que criadores lavam aves e outros animais retirados da natureza fazendo os parecerem criados em cativeiro. Por isso, essas decisões internacionais precisam vir acompanhadas de fiscalização forte e de políticas domésticas eficazes.”
Por que a Proteção Animal Mundial considera as decisões importantes, mas ainda insuficientes
As medidas aprovadas na CoP20 representam avanços, mas não eliminam a principal ameaça: a demanda. Enquanto houver mercado para pássaros canoros e animais usados como entretenimento, a exploração continuará.
A Proteção Animal Mundial reforça que:
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comércio legal não elimina o tráfico
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a demanda para fotos, contato e turismo sofre crescimento alarmante
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o mercado pet continua incentivando a captura no Brasil
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populações selvagens só se recuperam com redução da procura e proteção do habitat
As campanhas Silvestre não é pet e Silvestre não é entretenimento seguem fundamentais para enfrentar as causas do problema e conscientizar a sociedade.
O papel da COP20 no futuro da conservação
A COP20 é um ponto chave na história da CITES porque ocorre durante uma crise global de biodiversidade. As decisões tomadas agora influenciarão décadas de políticas de conservação, fiscalização e comércio internacional.
Proteções internacionais são essenciais, mas precisam ser acompanhadas por:
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políticas públicas nacionais
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fiscalização robusta
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redução da demanda
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ações educativas
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combate ao tráfico online e físico
Conclusão
As decisões da CoP20 da CITES são um passo importante para proteger o bicudo e as preguiças de dois dedos. No entanto, a Proteção Animal Mundial alerta que ainda há muito a ser feito dentro e fora do Brasil para reduzir o comércio e o tráfico de animais silvestres.
A proteção internacional é o começo. A mudança real depende de escolhas coletivas e de compromisso contínuo com o bem estar dos animais.
Foto: Hector Bottai, CC BY-SA 4.0, via Wikimedia Commons