
Entenda a trajetória percorrida pelos animais apreendidos e quais os desafios para a refaunação.
Em 2024, mais de 22 mil animais silvestres foram apreendidos no Brasil, segundo dados do Ibama. Isso equivale a uma média de 61 animais retirados ilegalmente da natureza a cada dia.
Embora seja proibido pela Lei Geral da Fauna e sujeito a punições previstas na Lei de Crimes Ambientais, o comércio ilegal continua acontecendo e capturando milhares de animais do seu habitat.
São diferentes mercados demandando animais para dentro e fora do país - desde alimentação, silvestre como pet, medicina tradicional, moda e até entretenimento.
São diversos pássaros sendo vendidos em feiras livres, tartarugas requisitadas pela medicina tradicional, toneladas de carne de caça para consumo e demonstração de status, ou ainda animais exóticos, como cobras e lagartos, sendo explorados e comercializados como animais de estimação.
Os dados foram extraídos do Sistema de Informações dos Cetas (SisCetas), que desde 2021 compila informações sobre o fluxo de animais nos Centros de Triagem de Animais Silvestres (Cetas).
Nos últimos 4 anos, a quantidade de animais apreendidos foi de, em média, 25 mil por ano, resultando em mais de 100 mil animais apreendidos nos últimos 4 anos.
O papel dos Cetas no acolhimento e tratamento dos animais
Quando interceptado pelo Ibama ou pela polícia ambiental, todos esses animais precisam ser avaliados e destinados. Os locais que fazem isso são os Centros de Triagem de Animais Silvestres (Cetas), espaços sob responsabilidade do Ibama destinados ao tratamento e encaminhamento dos animais apreendidos, resgatados ou entregues voluntariamente pela população.
O animal mais frequente nos Cetas é o Canário-da-terra (Sicalis flaveola), com aproximadamente 12 mil indivíduos apreendidos entrando nos Centros nos últimos 4 anos. Uma média de 3 mil por ano.
Por conta de seu canto, esse pássaro é frequentemente confinado como animal de estimação em todo o Brasil, uma prática cultural bem forte com criação comercial e amadorística legalizadas.
O estado de conservação desta espécie é “pouco preocupante” na IUCN e não consta na Lista Nacional Oficial de Espécies da Fauna Ameaçadas de Extinção.
É possível encontrá-lo em quase todo o território nacional, com forte presença nas regiões Sudeste e Sul. Também ocorre nas Guianas, Venezuela, Colômbia, Equador, Peru, Bolívia, Argentina, Paraguai e Uruguai.
Além das aves, que são o grupo mais traficado, os répteis também são bastante frequentes nos Cetas.
As espécies Tigre-d’água (Trachemys dorbigni) e Jabuti-piranga (Chelonoidis carbonaria) somam, juntas, mais de 8 mil indivíduos recebidos nos últimos quatro anos, 3.781 da primeira e 4.296 da segunda.
Esses animais são frequentemente capturados e vendidos como pets, sendo condenados a viver décadas em confinamento. O Tigre-d’água pode viver até 30 anos e o Jabuti-piranga impressionantes 100 anos. Uma vida inteira longe de seu habitat natural.
Desafios entre refaunação e cativeiro após o resgate
Com o objetivo de conservação e de reintrodução de fauna silvestre, os Cetas sempre priorizam a soltura na natureza, de onde os animais nunca deveriam ter saído.
Embora refaunar seja o caminho ideal, e a própria Constituição Federal no art. 225 determine que a fauna tem o direito de viver livre exercendo suas funções ecológicas livres de crueldade, existem inúmeras questões que dificultam o processo.
As principais dificuldades são o estado de saúde do animal ou a pouca disponibilidade de recurso para garantir o processo de reabilitação, que pode variar entre semanas ou anos.
Em muitos casos, esses animais acabam sendo encaminhados a zoológicos ou mantenedores de fauna.
É sempre cruel limitar um silvestre a gaiolas e recintos, que por maior que sejam, nunca vão alcançar a complexidade de uma floresta e atender suas necessidades comportamentais.
O cativeiro é um ambiente muito limitado e previsível, que não garante uma vida de qualidade ao animal silvestre.
Por isso, a refaunação, entendida como a volta ao habitat natural, seria o melhor destino para os animais que foram capturados e arrancados de seus lares.
Você pode fazer a diferença
O tráfico de animais silvestres é uma grande ameaça à nossa biodiversidade condenando milhares de espécies ao sofrimento e ao confinamento. A perda desses animais afeta profundamente os ecossistemas e compromete o equilíbrio ambiental. Junte-se a nós e lute por essa causa urgente.
Assine o nosso manifesto em defesa da vida silvestre e ajude a proteger milhares de animais que continuam sendo capturados, explorados e privados de viver em liberdade. Ao assinar, você estará contribuindo para a preservação dos biomas e para um futuro onde a vida animal seja respeitada e protegida.