Imagem contém prédios históricos no Marco Zero em Recife, Pernambuco

Quando a adaptação climática fala com sotaque local

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A CBA19 não foi apenas mais uma conferência internacional sobre clima — ela foi um convite. Um chamado para que olhemos para as comunidades não como beneficiárias de políticas públicas, mas como protagonistas da resposta à crise climática.

Realizada em Recife, a 19ª Conferência Internacional de Adaptação Baseada na Comunidade reuniu vozes diversas: especialistas, ativistas, povos originários e comunidades tradicionais que vivem, todos os dias, os efeitos das mudanças climáticas e, apesar disso, seguem produzindo respostas concretas, enraizadas e potentes.

A mensagem que ecoou nos corredores, nas rodas de conversa e nos campos agroecológicos foi clara: não há mais tempo para discursos descolados da realidade. A adaptação climática precisa deixar de ser um conceito técnico e se tornar uma prática cotidiana, construída com quem já está na linha de frente — com quem conhece o ritmo da terra, as dores das perdas e a força da coletividade.

A declaração final da conferência não economizou nos termos: é hora da presidência da COP30 ouvir as vozes locais e assumir, de fato, um compromisso com a justiça climática. Isso significa valorizar saberes que por muito tempo foram invisibilizados — os saberes indígenas, quilombolas, populares, comunitários e ancestrais — e garantir que o financiamento climático chegue na ponta, com flexibilidade, confiança e respeito.

A World Animal Protection Brasil esteve presente para lembrar que a crise climática também tem consequências para os animais — e que o cuidado com a fauna não pode ficar de fora das soluções comunitárias. Atuando no Pantanal e na Amazônia, a organização compartilhou vivências sobre o impacto das queimadas na fauna silvestre e defendeu que proteger os animais é proteger também os modos de vida e a biodiversidade que sustenta essas comunidades.

Em uma visita às propriedades da rede Agroflor, em Bom Jardim (PE), foi possível ver com os próprios olhos aquilo que tantas vezes nos contam em relatórios técnicos: mulheres agricultoras, trabalhando com agroecologia, cuidando da terra e alimentando famílias com dignidade. Ali, ficou ainda mais evidente que adaptação climática, bem-estar animal e justiça social são partes da mesma equação.

A CBA19 nos deixa com uma pergunta incômoda e necessária: estamos dispostos a abrir mão do protagonismo técnico para, de fato, caminhar ao lado das comunidades que já estão construindo o futuro?

Se queremos justiça climática de verdade, precisamos começar escutando quem a pratica todos os dias — com as mãos na terra, o olhar no coletivo e a coragem de seguir resistindo.

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