Um ano de enfrentamento estrutural e da conexão inadiável entre animais, clima e justiça socioambiental
Se você esteve com a gente ao longo de 2025, este texto é um convite para olhar para trás e ver tudo o que fizemos juntos. Foi um ano duro. A crise climática se aprofundou, o desmatamento avançou, as queimadas se intensificaram e o modelo agropecuário seguiu pressionando biomas inteiros. Diante desse cenário, proteger os animais exigiu mais do que respostas emergenciais. Exigiu enfrentar estruturas.
O ano de 2025 foi um ano para denunciar relações de poder, incidir sobre políticas públicas, mobilizar a sociedade civil, formar profissionais, fortalecer redes e, ao mesmo tempo, garantir cuidado direto aos animais impactados pela ação humana. Esta retrospectiva percorre esse caminho, do território às disputas nacionais e globais, deixando claro que a proteção animal atravessa o clima, a economia, a cultura, a saúde pública e a justiça socioambiental.
Quando a vida tem uma segunda chance: Manduvi e Cecília

Algumas histórias explicam por que tudo isso importa.
Em setembro, Cecília, uma tamanduá-bandeira sobrevivente dos incêndios no Pantanal, foi registrada em vida livre com um filhote recém-nascido. Após reabilitação conduzida pelo Instituto Tamanduá, com apoio da Proteção Animal Mundial, o registro confirmou sua adaptação ao habitat e sua capacidade de reprodução, fortalecendo a população da espécie.
No mesmo período, Manduvi, filhote órfão resgatado na BR 262, uma das rodovias mais letais do país para a fauna, foi reintroduzido na natureza após mais de um ano de cuidados no projeto Órfãos do Fogo. Uma história de resistência e a prova de que é possível reverter trajetórias marcadas pela destruição do habitat no Pantanal.
Esses casos mostram que a conservação gera resultados concretos.
Mobilizar pessoas para transformar realidades
A mobilização social foi um pilar central da atuação em 2025.
Oito edições do Ponto Animal aconteceram em diferentes cidades do país, criando espaços de encontro, escuta e sensibilização. Esses momentos mostraram a força do voluntariado e a importância de levar a pauta animal a públicos diversos.
Um dos destaques foi Paraty (RJ), em fevereiro. O centro histórico se transformou em um grande espaço de diálogo sobre a fauna brasileira. O Ponto Animal levou oficinas, atividades interativas e a exibição do documentário Xamã, no rastro da onça. As projeções na parede da Igreja da Matriz reuniram moradores e turistas para refletir sobre queimadas, agropecuária industrial e destruição de habitats.
Leia um pouco mais sobre os nossos Pontos Animais clicando aqui.
Informação, cultura e emoção caminharam juntas.
COP30 em Belém, animais no debate climático

A realização da COP30 em Belém, em 2025, foi um marco histórico. Pela primeira vez, a principal conferência do clima aconteceu na Amazônia, aproximando o debate global da realidade de um dos biomas mais ameaçados do planeta.
Ao longo do ano, trabalhamos para garantir que a proteção animal fosse reconhecida como parte essencial do enfrentamento climático. Isso envolveu denunciar as conexões entre destruição ambiental, sistemas alimentares industriais e sofrimento animal, mas também propor soluções e alternativas.
Participamos da Cúpula dos Povos e de diferentes eventos paralelos, levando análises que mostram como a pecuária industrial, o desmatamento associado à expansão de pastagens e as emissões ligadas ao uso da terra impactam diretamente a fauna e a biodiversidade.
Um dos momentos simbólicos foi o Banquetaço, um almoço coletivo com comida produzida por agricultores familiares em sistemas agroecológicos, servido gratuitamente à população. Um gesto simples que mostrou que outro sistema alimentar é possível, longe da lógica destrutiva do agronegócio.
A COP30 consolidou um entendimento importante. Animais e ecossistemas não podem ficar à margem das políticas climáticas.
Entenda mais sobre a nossa participação na COP30 clicando aqui.
Agroecologia em pauta, construindo alternativas
Em 2025, além de denunciar, também fortalecemos caminhos propositivos.
A Proteção Animal Mundial passou a integrar o Grupo de Trabalho de Animais e Agroecologia da Associação Brasileira de Agroecologia, um espaço nacional de articulação que reúne profissionais de diferentes áreas e regiões do país.
Na Feira Nacional do MST, o Ponto Animal promoveu diálogo direto com o público, coletou assinaturas do Manifesto e serviu de base para a produção de um documentário sobre agroecologia e proteção animal. Também houve apoio às ações de extensão rural em assentamentos de São Paulo e participação no Congresso Brasileiro de Agroecologia.
A mensagem foi clara. Animais de criação também merecem respeito durante suas vidas, e a agroecologia mostra que isso é possível e sustentável.
Responder às emergências para salvar vidas

Com o agravamento das queimadas no Pantanal e no Cerrado, a capacitação técnica se tornou ainda mais urgente.
Em setembro, apoiamos a terceira edição da Imersão em Resgate Técnico Animal, realizada em Campo Grande, no Mato Grosso do Sul. Durante quatro dias, brigadistas, veterinários e biólogos participaram de treinamentos práticos sobre contenção, transporte, reabilitação, uso de drones, biossegurança e montagem de postos médicos veterinários avançados.
Capacitar equipes é uma etapa essencial da resposta aos desastres. Sem isso, milhares de animais seguem morrendo sem atendimento especializado.
Quer saber mais sobre o papel das brigadas de incêndio? Clique aqui e escute.
Cultura, estrutura e o futuro da Amazônia

Em outubro, a Mostra Curupira levou para Belém uma programação voltada à fauna amazônica, com oficinas, palestras, cine debates e rodas de conversa. A iniciativa, em parceria com o Ibama e a Fundação Cultural do Pará, estimulou a produção artística e a reflexão sobre defaunação e perda de habitat.
No mesmo mês, o Pará inaugurou seu primeiro centro especializado em reabilitação de fauna silvestre. A reforma do CETAS, viabilizada por acordo de cooperação entre a Proteção Animal Mundial e o Ibama, fortaleceu a rede de atendimento a animais vítimas de queimadas, desmatamento, tráfico, atropelamentos e maus tratos.
Estrutura importa. Leia mais aqui.
Voluntariado: a causa ganhando corpo no território

Em 2025, o voluntariado foi uma das principais forças para levar a proteção animal para fora dos nossos canais institucionais e colocá-la no cotidiano das pessoas.
Voluntárias e voluntários participaram ativamente dos Pontos Animais, apoiando ações de rua, atividades educativas e mobilizações culturais em diferentes cidades do país. Em Santa Maria (RS), o Ponto Animal esteve presente nas comemorações do aniversário da cidade, criando um espaço de diálogo direto com o público sobre fauna e conservação. Em Tiradentes (MG), a pauta animal também ganhou espaço durante o Festival Gastronômico, mostrando que eventos culturais são oportunidades potentes de sensibilização.
Durante a COP30, em Belém, cerca de 30 voluntários integraram a Marcha pelo Clima da Cúpula dos Povos, formando um bloco dedicado à causa animal e conectando crise climática, sistemas alimentares e sofrimento da fauna. Voluntários também estiveram presentes em mobilizações estratégicas, como a ação durante a assembleia de acionistas da JBS em São Paulo, reforçando a pressão da sociedade civil.
Além das ações presenciais, o voluntariado atuou no ambiente digital, apoiando campanhas de pressão ao Congresso, mobilizações contra o PL da Devastação e o mapeamento de perfis aliados à causa animal. Ao longo do ano, essas pessoas também participaram de capacitações, garantindo atuação qualificada, segura e alinhada à estratégia da organização.
O voluntariado mostrou, mais uma vez, que proteger os animais é um esforço coletivo, feito de encontros, diálogo e ação concreta.
A crise que mata em silêncio, agronegócio, água e fauna
Nem toda violência é visível.
Em fevereiro, apoiamos a publicação da série Massacre Invisível, no portal O Eco. A investigação revelou como canais de água criados para sustentar grandes monoculturas se transformam em armadilhas letais para a fauna.
Animais expulsos de seus habitats buscam água nesses canais, não conseguem sair deles e acabam morrendo por afogamento ou exaustão. Tornar esse massacre visível foi essencial para pressionar por soluções estruturais e por um licenciamento ambiental mais rigoroso.
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Vilões do Clima e a JBS no centro do debate
Ao longo de 2025, a campanha Vilões do Clima aprofundou a relação entre pecuária industrial, desmatamento e crise climática.
Em abril, no Dia Nacional para a Ação Climática, o Ponto Animal ocupou as ruas de São Paulo. No mesmo mês, durante a assembleia de acionistas da JBS, realizamos uma ação de protesto estratégico contra a entrada da empresa na Bolsa de Nova York.
A manifestação teve repercussão nacional, incluindo a publicação de um dos banners no jornal Folha de S.Paulo, levando o debate para além do campo ambiental e alcançando o mercado financeiro.
Também denunciamos a compra de gado oriundo de área protegida no Parque Estadual da Serra de Ricardo Franco, no Mato Grosso, por meio de triangulação. O caso expôs falhas graves na rastreabilidade da cadeia produtiva e reforçou a urgência de transparência.
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Lobby da Carne e os bastidores do poder
O enfrentamento às causas estruturais ganhou força com o nosso apoio ao projeto Lobby da Carne, da Fiquem Sabendo em parceria com O Joio e O Trigo.
As reportagens revelaram como a indústria da carne atuou nos bastidores da reforma tributária para garantir isenções fiscais, com articulações políticas e doações eleitorais milionárias. Os dados mostraram que esses benefícios favorecem grandes empresas e ampliam as margens de lucro de um setor que já concentra privilégios.
Transparência e justiça fiscal também protegem animais e biomas.
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Legislação e advocacy para proteger os animais
Em 2025, lançamos a Agenda Legislativa Animal, uma iniciativa que sistematiza projetos estratégicos para a proteção dos animais em tramitação no Congresso Nacional.
Também atuamos contra pautas como o PL da Devastação e o marco temporal, alertando para os riscos que esses retrocessos representam para os territórios, a biodiversidade e os animais.
Seguimos enfrentando, seguimos protegendo
A retrospectiva de 2025 mostra que proteger os animais exige enfrentar interesses econômicos, incidir sobre políticas públicas, mobilizar pessoas, capacitar profissionais e investir em estruturas.
Seguimos porque cada vida importa.
Seguimos porque a crise climática já está entre nós.
E seguimos porque os animais não podem esperar.
Fotos fazem parte do banco de imagens de ações e atividades dá Proteção Animal Mundial Brasil