Tangará da Serra, Mato Grosso, Brasil - Vista aérea de montanha de milho, silos e armazém em Nova Mutum

Novo relatório vincula JBS a aquisição de grãos de áreas desmatadas para produção de ração animal

Comunicado de imprensa

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Novo relatório vincula JBS a aquisição de grãos de áreas desmatadas para produção de ração animal

São Paulo, 07 de outubro de 2022 – A JBS, maior processadora de carnes do mundo, está comprando grãos, para a produção de ração animal, provenientes de fazendas com áreas desmatadas recentemente na Amazônia e no Cerrado. A história está revelada em uma nova investigação da Repórter Brasil produzida com a apoio da Proteção Animal Mundial, organização não-governamental que trabalha em prol do bem-estar animal.

A investigação revela que os agricultores expandiram o plantio de soja em áreas de desmatamento recente e venderam a soja para fornecedores de grãos da JBS para a produção de ração animal. A prática prejudica milhões de animais silvestres, ameaça alguns dos ecossistemas mais emblemáticos do mundo e contribui para as mudanças climáticas, tudo em nome da alimentação de animais de produção que experimentam sofrimento impensável em sistemas de pecuária industrial intensiva.
 

Vista aérea da fábrica da JBS, Seara, em Tangará da Serra. Foto: Fernando Martinho/Repórter Brasil

Silos com milho do lado de fora de uma fazenda em Lucas do Rio Verde. Foto: Fernando Martinho/Repórter Brasil

O relatório foca no que acontece no centro e norte do estado de Mato Grosso, rastreando a soja dos agricultores aos fornecedores de grãos, como Bunge e Amaggi, e então deles às instalações da JBS destinada à produção de ração animal

Realizado pela Repórter Brasil, premiada organização de jornalismo investigativo sem fins lucrativos, o relatório “Floresta Racionada” reúne evidências – depoimentos de transportadores de carga que fazem parte da cadeia de abastecimento do setor, imagens de satélite e documentação legal pública – que apontam possíveis práticas ilegais em fazendas fornecedoras de soja para a JBS. 

Leia o relatório

As principais descobertas incluem as relativas a uma fazenda (“Fazenda Dona Josefa”) que, mesmo tendo desmatado 98,7 hectares além do permitido, continuou vendendo soja. Documentos fiscais comprovam que as empresas Bunge e Amaggi, ambas fornecedoras da JBS, receberam soja da fazenda em 2019. Além disso, a fazenda seguiu produzindo o grão nos anos de 2020 e 2021. A fazenda está localizada na região do Cerrado, considerada a savana com maior biodiversidade do mundo, mas também a mais impactada pelo desmatamento para o plantio de grãos

Outros achados se referem a uma fazenda na Amazônia (“Fazenda União”) que está enquadrada em parâmetros legais para a produção e venda de soja para fornecedores da JBS. A “Fazenda União”, todavia, é vizinha a uma outra propriedade, do mesmo proprietário, chamada “Fazenda União II”. Esta, mesmo não estando autorizada para a comercialização agrícola, recebeu áreas de plantio de soja conforme detectado por imagens de satélite. Todos os documentos que relacionam o proprietário das duas fazendas à Bunge e à Amaggi indicam a “Fazenda União” como único estabelecimento de origem de toda a soja adquirida.

Segundo o relatório, essa situação levanta suspeitas de um típico caso de “lavagem de grãos” – que é quando um produtor utiliza fazendas legais para mascarar a produção de fazendas embargadas pelo governo por práticas como o desmatamento. O relatório também inclui estudos sobre o milho, outro grão amplamente utilizado na produção de ração animal, mas cuja produção encontra-se ainda ignorada por qualquer tipo de acordo setorial de sustentabilidade. Os produtores de milho que vendem diretamente para a JBS também produziram em fazendas irregulares sem aprovações, incluindo algumas sob impedimento do governo brasileiro.
 

Vista aérea da fábrica da JBS, Seara, em Tangará da Serra. Foto: Fernando Martinho/Repórter Brasil

Lavouras e áreas desmatadas nas Fazendas União e União II em Tapurah, dentro do bioma amazônico. Foto: Fernando Martinho/Repórter Brasil

A JBS afirma que cumpriu todas as regulamentações pertinentes em relação a esses exemplos, porém a pesquisa mostra lacunas significativas em sua responsabilidade de prevenir o desmatamento como um dos maiores atores do mercado de grãos. Com o desmatamento no fornecimento de grãos para ração animal fortemente ligado às mudanças climáticas, isso coloca em dúvida o compromisso de zerar o balanço líquido das emissões de gases do efeito estufa declarado pela JBS

A Proteção Animal Mundial está pedindo, em todo o mundo, que não sejam construídas novas fazendas de criação animal intensiva como forma de combater a causa raiz do desmatamento e de proteger do sofrimento bilhões de animais silvestres e de produção

As indústrias de criação animal intensiva têm a responsabilidade de rastrear a origem da ração animal adquirida, não contribuindo assim para a destruição dos habitats. Elas também devem limitar a criação animal a um número menor de animais de produção vivendo obrigatoriamente em sistemas sustentáveis e de alto nível de bem-estar, com ração de origem local e sustentável.
 

Vista aérea da fábrica da JBS, Seara, em Tangará da Serra. Foto: Fernando Martinho/Repórter Brasil

Vista aérea da fábrica da JBS/ Seara, em Tangará da Serra. Foto: Fernando Martinho/Repórter Brasil

“Hoje, aproximadamente dois terços da soja produzida no Brasil é destinada para a produção de ração animal, em especial para alimentar aves e suínos. Isso é insustentável. Há um enorme potencial para usar esta terra de forma mais eficiente e sustentável, destinando-a à produção de alimentos para as pessoas. A sustentabilidade, no que diz respeito à produção animal, implica em uma criação menor e melhor”, explica José Ciocca, gerente de Agropecuária Sustentável da Proteção Animal Mundial. “É preciso reduzir o consumo para que seja possível haver um sistema de produção mais sustentável, em que os animais sejam criados com maior bem-estar e alimentados somente com subprodutos dos grãos utilizados preferencialmente para consumo humano”, completa.

Para Jacqueline Mills, chefe de campanha de Agropecuária Sustentável da Proteção Animal Mundial, “É inacreditável que a JBS, a maior processadora de carne do mundo, compre grandes volumes de grãos para ração de animais de criação dos epicentros mundiais da biodiversidade, mas não possa oferecer garantias contra o desmatamento. Esses exemplos incluem locais onde a JBS obteve grãos diretamente do campo – eles não conseguem fazer o básico direito. Se não podemos confiar neles para evitar o desmatamento, como podemos acreditar em seu delírio de zerar o balanço líquido climático?”. 

Segundo a publicação Watt Poultry International, a JBS abate 4,4 bilhões de aves por ano. Segundo a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), durante 45 dias de vida até o abate – ciclo que, em muitos casos, é reduzido para menos de 40 dias – uma ave consome em média 4,8 kg de ração animal.

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