Imagem de floresta queimada

Mais de 30 milhões de hectares queimados em 2024. O que mudou em 2025?

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Em meio à crise ambiental, país dá passo inédito ao incluir o resgate de animais silvestres na legislação de combate ao fogo.

A temporada de incêndios no Brasil chegou mais uma vez com força, agravada por uma crise ambiental sistêmica e marcada por políticas públicas historicamente frágeis ou insuficientes. O ano de 2024 foi especialmente crítico: segundo o MapBiomas, mais de 30,8 milhões de hectares foram queimados no país, o que equivale a todo o território da Itália. Trata-se de um aumento de 79% em relação a 2023, com a Amazônia sendo o bioma mais atingido, cerca de 156 mil km² de área queimada, o pior índice registrado em 40 anos. Três quartos dessa área eram de vegetação nativa, elemento essencial para o equilíbrio climático, a regulação hídrica e a captura de carbono. A devastação foi impulsionada por uma das secas mais intensas das últimas sete décadas, associada ao avanço do desmatamento, à conversão de floresta em pastagem e à prática intencional de queimadas para limpeza de áreas.

 

Apesar da gravidade do ano anterior, os primeiros seis meses de 2025 apresentaram redução significativa nos focos de calor e na área queimada. Dados oficiais do governo federal apontam uma queda de 65,8% na área afetada pelo fogo no Brasil em relação ao mesmo período de 2024. O número de focos caiu 46,4%, totalizando 19.277 ocorrências, o menor valor desde 2018. Biomas como Pantanal, Amazônia e Mata Atlântica apresentaram as maiores reduções, enquanto Caatinga e Pampa registraram aumento tanto no número de focos quanto na área queimada. Especialistas alertam, porém, que essa melhora parcial não pode ser confundida com um cenário de controle. O fogo, especialmente na Amazônia, não se propaga de forma natural, seu avanço é resultado direto da ação humana e da fragilização institucional do controle ambiental. O próprio governo reconheceu o agravamento do problema ao decretar, ainda em fevereiro de 2025, estado de emergência ambiental preventiva em áreas de risco de incêndios. A medida permitiu o acesso facilitado de estados e municípios a recursos e instrumentos para prevenção, monitoramento e resposta rápida.

 

Em paralelo, o Congresso Nacional aprovou e o governo sancionou a Lei nº 15.143/2025, que autoriza apoio financeiro, reembolsável e não reembolsável, para ações de combate a queimadas e incêndios florestais. Pela primeira vez, uma legislação federal menciona expressamente o resgate de fauna silvestre como parte das estratégias de resposta a emergências ambientais, reconhecendo o impacto direto do fogo sobre os animais e a necessidade de estruturar ações de salvamento e cuidado veterinário nos territórios atingidos. Essa inovação normativa representa um marco importante no avanço da política ambiental brasileira, ampliando o conceito de prevenção e resposta para além das infraestruturas humanas. Essa legislação flexibiliza exigências formais para repasse de recursos, amplia a possibilidade de recontratação de brigadistas com intervalo mínimo de três meses (antes exigia-se dois anos) e fortalece a atuação local dos entes federativos.

 

Em linha com esse esforço, a Polícia Federal lançou a Operação Incêndios 2025, uma ação integrada com IBAMA, ICMBio, Força Nacional e outros órgãos, usando drones, geointeligência, bases avançadas e monitoramento em tempo real para antecipar e reprimir crimes ambientais. A iniciativa também prevê investigações aprofundadas para identificar mandantes e redes de financiamento de incêndios ilegais.



Além disso, foi publicada em março uma nova resolução do Comitê Nacional de Manejo do Fogo (COMIF) que estabelece critérios para os Planos de Manejo Integrado do Fogo, exigindo assistência técnica para propriedades rurais localizadas em áreas afetadas por incêndios nos últimos três anos. Embora esses marcos representem avanços institucionais importantes, ainda há críticas sobre o caráter permissivo de algumas normas que mantêm brechas legais para o uso “controlado” do fogo, especialmente em um contexto de emergência climática e fiscalização ainda limitada.

 

As perspectivas para o restante do ano ainda são incertas. A estiagem prolongada, a elevação das temperaturas médias e a pressão por expansão agrícola continuam presentes. Mesmo com a redução dos números em 2025, os dados do ano anterior revelam um padrão preocupante de recorrência e escala. A crise climática exige não apenas respostas emergenciais, mas políticas públicas estruturantes, com investimentos contínuos, fortalecimento institucional, atuação territorializada e vontade política firme.

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