A chicken in an indoor farm

Ministério da Agricultura declara estado de emergência zoossanitária devido à gripe aviária

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Bem-estar animal pode ser a chave para evitar novas pandemias e controlar a disseminação do vírus

A influenza aviária, também conhecida como gripe aviária, é uma doença causada por um vírus altamente patogênico que pode infectar aves e mamíferos, incluindo seres humanos.  

A transmissão do vírus entre as aves se propaga a partir de contato prolongado com animais infectados, suas secreções ou excreções. Seres humanos podem eventualmente ser afetados pelo vírus, que pode ser difundido por meio de equipamentos, vestimentas, ração, água e outros objetos contaminados. 

O Brasil, maior exportador mundial de carne de frango do mundo, está em alerta devido à detecção de casos de influenza aviária em aves silvestres no país.

Chickens crowded in an intensive farming system.

O Ministério da Agricultura e Pecuária declarou estado de emergência zoossanitária no dia 15 de maio de 2023, com o anúncio do registro dos primeiros casos de Influenza Aviária de Alta Patogenicidade (IAAP) em aves silvestres no país. A portaria suspende, em todo território nacional, a realização de exposições, torneios, feiras e demais eventos com aglomeração de aves. Também fica suspensa a criação de aves ao ar livre, com acesso a piquetes sem telas na parte superior, em estabelecimentos registrados segundo a Instrução Normativa nº 56, de 4 de dezembro de 2007. 

A pecuária industrial intensiva coloca os animais e as pessoas em risco

A pecuária industrial intensiva, em seu sistema atual, está colaborando significativamente com a disseminação de zoonoses ao renunciar as práticas de bem-estar animal e os efeitos disso podem vir a ser devastadores.  

A atual situação expõe um risco intrínseco aos sistemas industriais intensivos, que é a alta disseminação de patógenos, resistência antimicrobiana e zoonoses. De acordo com a pesquisadora Janice Zanella, 75% das doenças emergentes e reemergentes do último século são zoonoses. Para manter a segurança alimentar, especialistas reforçam a importância das boas práticas sanitárias e de manejo que garantam o bem-estar animal nas granjas.  

Outro ponto de atenção é a expansão da produção de monoculturas de soja e milho, cuja maior porcentagem de consumo é de animal, principalmente em criações de aves e suínos, que é vetor do desmatamento e mudança do uso de terras no Brasil.

De acordo com um estudo da Fio Cruz, vários autores já chamaram a atenção para o risco de um patógeno mortal emergir do nosso país. Mudanças nos padrões de uso da terra, que aumentam a vulnerabilidade social e perturbam o funcionamento do ecossistema, também afetam os ciclos de transmissão de patógenos, ampliando o risco de contato entre humanos e animais selvagens anteriormente isolados que representam reservatórios e vetores de patógenos.

A pecuária intensiva desempenha um papel chave no crescimento do H1N5 (vírus da Influenza Aviária) por criar aves em ambientes confinados e estressantes, onde são impossibilitadas de expressar seus comportamentos naturais e submetidas a seleção genética que prioriza animais de crescimento rápido.

Todas essas condições contribuem para o comprometimento do sistema imunológico dos animais e facilitam o surgimento de doenças, colocando em risco não apenas os animais, mas também os profissionais da granja que estão vulneráveis ao vírus e podem transmitir para outras pessoas.  

"A expansão agropecuária coloca em risco o cumprimento das metas do Acordo Climático de Paris e, consequentemente, o futuro do planeta. No ano passado, lançamos a campanha ‘Desmatamento no Prato’ que compila relatórios e estudos sobre os impactos da indústria de carne na crise climática e na vida dos animais de fazenda e silvestres", comenta Karina Rie Ishida, Coordenadora de Campanhas de Sistemas Alimentares da Proteção Animal Mundial.

"Buscamos fomentar que o bem-estar animal é fundamental nessa equação. Por isso, mudanças culturais e nas atitudes são urgentes para a sustentabilidade global. A transição para o consumo de proteínas éticas e sustentáveis ajudará a proteger os animais, as pessoas e o planeta”, complementa Karina.

Como identificar casos de gripe aviária

Ainda não há tratamento para aves com gripe aviária. A melhor forma de combater a doença é prevenindo sua entrada nas granjas por meio da adoção de altos padrões de biossegurança essenciais para o bem-estar animal.  

Quanto antes a doença for detectada, maiores são as chances de evitar que ela se espalhe. Para quem trabalha com animais silvestres ou de fazenda, os seguintes sintomas que devem ser observados nas aves são:  

  • Aumento repentino de mortalidade das aves num período de 72 horas;  
  • Secreção ou corrimento ocular e nasal, tosse, espirros, diarréia e desidratação;  
  • Depressão severa, apatia, diminuição ou parada no consumo de ração, incoordenação motora (sintomas nervosos), andar cambaleante e cabeça pendendo para o lado;  
  • Queda drástica na produção de ovos, ovos desuniformes, de casca deformada e na;  
  • Hemorragias nas pernas, inchaço na região dos olhos, da cabeça e pescoço, inchaço e coloração roxo-azulada ou vermelho-escura na crista e na barbela.