
Com foco na COP30, Brasil reforça protagonismo e defende metas mais ambiciosas em adaptação, financiamento climático e transição energética durante conferência preparatória em Bonn.
Durante a 62ª sessão dos Órgãos Subsidiários da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (UNFCCC), realizada em Bonn, na Alemanha, a ministra Marina Silva reforçou a necessidade de que os negociadores internacionais atuem com o senso de urgência exigido pela crise climática. O evento, considerado uma etapa preparatória para a COP30, que ocorrerá em Belém, serviu como palco para pautas estratégicas que o Brasil considera prioritárias na agenda climática global.
Entre os temas centrais está a definição de indicadores para o Objetivo Global de Adaptação (GGA), compromisso firmado no Acordo de Paris e ainda carente de métricas claras que permitam medir os avanços na resiliência dos países e na proteção de populações vulneráveis. O Brasil também buscou avançar nas discussões sobre o financiamento climático, apontando a urgência em tornar concretos os compromissos assumidos na COP29, no Azerbaijão, que preveem US$ 300 bilhões até 2030, mas que precisam caminhar rumo à meta de US$ 1,3 trilhão por ano para garantir justiça climática.
Outro ponto de destaque foi a retomada da agenda de Transição Justa, que busca garantir que a descarbonização da economia não aprofunde desigualdades, especialmente entre trabalhadores e comunidades afetadas por mudanças estruturais no setor energético. Ainda em Bonn, o Brasil defendeu que a redução do uso de combustíveis fósseis siga sendo tratada com prioridade, alinhada ao primeiro balanço global do Acordo de Paris, concluído na COP28, que evidenciou o descasamento entre as promessas e os resultados efetivos até aqui.
Marina Silva também chamou atenção para a importância de restaurar a confiança nas negociações multilaterais, alertando que os compromissos firmados nas COPs anteriores — como triplicar a capacidade de energia renovável, dobrar a eficiência energética e zerar o desmatamento até 2030 — ainda carecem de mecanismos claros de implementação e monitoramento. Para a ministra, o sucesso da COP30 passa pela construção de consensos agora, nas etapas intermediárias.
Por fim, o Brasil buscou protagonizar uma agenda de integração entre as três Convenções do Rio — clima, biodiversidade e desertificação —, promovendo um evento técnico para pensar sinergias entre essas áreas. Essa articulação, resgatando o espírito da Eco-92, pode representar um diferencial estratégico, ao propor uma abordagem sistêmica para os desafios ambientais, evitando a fragmentação das soluções e promovendo a otimização de recursos.
Esse posicionamento do Brasil em Bonn reflete uma postura diplomática ativa, que busca colocar a urgência climática no centro das decisões internacionais, ao mesmo tempo em que sinaliza caminhos possíveis para uma governança mais eficiente, justa e baseada em compromissos verificáveis rumo à COP30.