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Agrolobby: o que os bancos europeus estão escondendo de você

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Relatório revela quem está financiando o enfraquecimento das leis ambientais no Brasil.

As últimas semanas foram marcadas pela cobertura da catástrofe no Rio Grande do Sul, que infelizmente deixou mais de uma centena de mortos e milhares de desabrigados.  

Durante este período, boa parte da mídia destacou a conexão entre a tragédia e as mudanças climáticas. Nós fomos além e pesquisamos a fundo para descobrir o que move os verdadeiros responsáveis por esse desastre. 

No relatório "Como os Países Baixos financiam o lobby do agronegócio no Brasil", mostramos como os bancos dos neerlandeses (ou holandeses) atuam junto ao lobby do agronegócio no Brasil, permitindo com que a agropecuária industrial e a bancada ruralista promovam o afrouxamento das leis ambientais

O levantamento mostra que no período de 2019 a 2023, Rabobank, ABN Amro e ING Group, os três principais bancos dos Países Baixos (comumente conhecido como Holanda), concederam 1,89 bilhão de dólares em empréstimos corporativos, transações de participação acionária e de títulos para 18 empresas que estão envolvidas em atividades do chamado agrolobby no Brasil. Somente o Rabobank foi responsável por 86% de todas as transações efetuadas pelas instituições financeiras holandesas no Brasil neste período. 

Confira o relatório na íntegra

As 18 empresas citadas no relatório – ADM, Bunge, Cargill, Louis Dreyfus, COFCO, Amaggi, Coamo, Olam, Mitsubishi, Tentos do Sul, Jotabasso, Marfrig, Minerva, JBS, Suzano, Klabin, Marubeni e Stora Enso – integram o Instituto Pensar Agro (IPA), entidade que, ao lado da Frente Parlamentar Agropecuária (FPA), conhecida também como bancada ruralista, e que ao longo dos anos tem desempenhado papel central para o enfraquecimento da legislação socioambiental do país. 

“O IPA opera como um think tank do agro e é financiado por 55 associações empresariais. O instituto é um apêndice da FPA, a maior bancada do Congresso Nacional, que concentra dois terços das cadeiras na Câmara dos Deputados e no Senado. Na prática, o IPA produz o conteúdo, redige e a FPA propõe esses projetos de lei e outros instrumentos que sempre resultam em graves retrocessos na legislação socioambiental do país. Não faltam exemplos quanto a isso, entre os mais recentes não podemos deixar de citar a aberração do Marco Temporal, que prejudica a demarcação de terras indígenas no Brasil, e a nova Lei dos Agrotóxicos, ou Pacote do Veneno, que flexibilizou totalmente as regulamentações existentes, e custará para a sociedade brasileira um uso ainda mais abusivo de agrotóxicos no país, incluindo substâncias altamente perigosas que já não são mais permitidas em países da Europa, como os Países Baixos.”, explica Marina Lacôrte, gerente de Sistemas Alimentares.

O relatório aponta ainda que, além dos bancos mencionados, os fundos de pensão e de investimento dos Países Baixos também investiram no agrolobby. Treze empresas brasileiras ligadas ao IPA receberam 313,69 milhões de dólares desses fundos. O principal contribuinte foi o PFZW, com 64,91% do montante total, seguido do ABP — 18,67% — e do Bedrijfstakpensioenfonds voor de Bouwnijverheid (BpfBOUW) — 3,10%. 

“Nesse arranjo, congressistas, lobistas e empresas do agro atuam de forma bastante coordenada para pressionar o afrouxamento das regras ambientais tanto no legislativo quanto no executivo, e o IPA tem funcionado como intermediário entre a FPA e as empresas do agro que são altamente beneficiadas com as ações da bancada ruralista e que recebem financiamento dessas instituições neerlandesas.”, explica Marina. “Em outras palavras, essas instituições financeiras estão contribuindo para todo o afrouxamento da regulação socioambiental do país. Não é aceitável que tais instituições que afirmam ter compromisso com a sustentabilidade e seguir critérios rigorosos para o fornecimento de crédito fechem os olhos para sua responsabilidade nesta grave situação, que nos distancia ainda mais das metas climáticas e da redução da desigualdade social no Brasil. Quanto ao bem-estar animal, esse sequer é considerado para conceder o crédito”, complementa. 

 Leia o relatório completo e entenda a conexão com os Países Baixos, a influência dos fazendeiros e lobistas na Frente Parlamentar Agro (FPA) e o enfraquecimento das leis ambientais que resultam em catástrofes irreparáveis como a que estamos vivendo agora. 

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