Caça de javalis no Brasil: solução ou retrocesso?

Caça de javalis no Brasil: solução ou retrocesso?

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Mamífero europeu foi introduzido no Brasil nos anos 90, mas por falhas de fiscalização e controle da criação, hoje é considerado uma “praga”

A World Animal Protection enviou uma carta oficial ao Ministério Público, nesta semana, criticando a liberação da caça como método de controle de javalis. Cerca de 7 mil caçadores já estão cadastrados para abater o animal no país, além dos que atuam ilegalmente.

O javali é um dos poucos mamíferos silvestres que podem ser caçados no Brasil. A prática foi liberada pelo Ibama (n.3/2013), em resposta ao aumento das populações na natureza e consequentes prejuízos à agricultura. É preciso lembrar, no entanto, que os javalis não se alastraram naturalmente pelo país.

Problema causado pelo homem

A espécie não é nativa da fauna brasileira. Estes animais europeus foram introduzidos no Rio Grande do Sul na década de 90 e tiveram sua criação permitida por órgãos do governo – a princípio para servir como carne “exótica”.

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Sem medidas preventivas de controle e fiscalização eficientes, os javalis que fugiam ou eram soltos por antigos criadores encontravam um ambiente favorável para reprodução: a espécie não tem predadores naturais no Brasil. Ao longo dos anos, a população de javalis cresceu massivamente, sem receber manejo ético e adequado.

Hoje, a espécie é considerada uma “praga invasora” e como resultado, milhares de animais agora são injustamente submetidos à perseguição e a uma morte cruel – como “solução” para um problema que foi causado e perpetuado pelo homem.

Ameaça a outros animais

Além de ser desumana, a matança de javalis também prejudica outras espécies. Queixadas e catetos (porcos do mato), por exemplo, são protegidos por lei e não devem ser caçados no Brasil, mas podem ser facilmente confundidos com javalis e mortos.

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O restante da fauna também pode ser ameaçado pelas armadilhas, perseguição por cães e ferimentos de bala – muitas vezes, enfrentando horas de sofrimento antes de morrer.  

Para evitar isto, no caso especifico de conflitos que envolvem espécies silvestres, o manejo e controle destas populações deve sempre ser delineado de acordo com a situação encontrada em cada local, através da análise minuciosa de uma equipe multidisciplinar.

O manejo não letal deve ser priorizado sempre que for possível, mas qualquer abordagem escolhida deve seguir princípios éticos e humanitários. Afinal, não é justo que javalis ou quaisquer outros animais sejam responsabilizados e punidos por problemas causados pela nossa sociedade.

Caça é sempre cruel

A World Animal Protection reconhece que, ainda assim, este é um problema ambiental, sanitário e social crítico e que deve ser atendido de forma rápida. No entanto, incentivar que a população pratique a caça é uma medida arriscada e que vai contra os esforços do país para promover práticas de bem-estar animal.

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O cadastro de caçadores, por exemplo, não é limitado a profissionais treinados na área de saúde ou de controle ambiental. Permitir a caça de algumas espécies por quem tem porte de arma ou está associado a clubes de tiro cria expectativa para a prática da caça esportiva.

E ainda pior: perpetua uma cultura de violência contra os animais. 

Não é justo que javalis ou quaisquer outros animais sejam responsabilizados e punidos por problemas causados pela nossa sociedade