O preço da impunidade: passivos legais da JBS explodem em quase de US$ 7 bilhões

A ONG Global Witness revelou que os passivos legais da JBS quase triplicaram, passando de US$1,8 bilhões em junho de 2023 para US$6,9 bilhões no fim de 2024. Valor que corresponde a processos fiscais e ações civis enfrentados pela empresa. Esse montante, não pago, equivale a quase US$7,2 bilhões, valor total de lucro ajustado da empresa em 2024¹.

A Global Witness chegou a esses valores com base na comparação das diversas versões dos formulários enviados pela empresa à Comissão de Valores Mobiliários dos EUA (SEC), como parte do processo de entrada da empresa na Bolsa de Nova Iorque, também conhecido como dupla listagem. A análise sugere que existe um risco alto para investidores associado a JBS e faz coro com outras diversas críticas que vem sendo colocadas a respeito da dupla listagem e os impactos negativos da expansão da empresa que será impulsionada pela abertura de capital.

Antes mesmo da Assembleia Extraordinária sobre a dupla listagem ser aprovada pelos acionistas, a consultoria em governança corporativa ISS (Institutional Shareholder Services) já havia alertado que, com essa movimentação os acionistas controladores - a holding J&F que pertence aos irmãos Batista - poderiam concentrar até 85% do poder de voto. Esse cenário indicaria um enfraquecimento da atuação dos acionistas minoritários e comprometeria a transparência da empresa. Mas nem seria preciso apontar esse tipo de risco considerando todo o histórico da JBS e sua falta de transparência e compromisso. 

O relatório "Mudança climática e crueldade animal", divulgado pela nossa equipe em 2022, mostrou que a JBS emite, por ano, o equivalente às emissões de 14 milhões de carros e ao total das emissões de todo um país, a Espanha. No entanto, a empresa não demonstra sinais de que consegue mitigar esses impactos. Ao contrário, tem demonstrado uma postura negligente, recuando em seus compromissos climáticos e reduzindo-os a “meras aspirações”. A empresa e seus fornecedores também acumulam escândalos ao longo da cadeia produtiva, como denúncias envolvendo trabalho infantil e escravo, desmatamento ilegal e lavagem de gado.  

O rastro de destruição da JBS já deveria ser suficiente para classificá-la como uma empresa de alto risco, já que suas atividades podem custar nosso futuro.  Mais alarmante do que qualquer risco financeiro para investidores em busca de lucro é a expansão de um modelo que promove sofrimento animal em larga escala e a devastação de ecossistemas inteiros. Agora, que a maior produtora de carne do mundo acessa o mercado global de capitais, precisamos reforçar nosso grito pelo fim da pecuária industrial e pela transição para sistemas alimentares mais justos e agroecológicos.  

Junte-se a nós pela proteção das pessoas, dos animais e da natureza! Assine o manifesto por um sistema alimentar mais justo e sustentável.