
Inauguração do Cetas Benevides (PA) reforça recuperação e reabilitação da vida silvestre na Amazônia
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Alvo de altos índices de desmatamento, o Pará terá pela primeira vez um centro especializado no tratamento da fauna
As ações provocadas pelo homem como o desmatamento, os incêndios florestais, a caça ilegal e o tráfico são as principais causas da defaunação nos biomas brasileiros. Vítimas dessas práticas, os animais perdem seus habitats e acabam mortos ou sofrem com acidentes e maus tratos.
O tratamento, recuperação e destinação desses animais são realizados em todo país pela rede de Centros de Triagem de Animais Silvestres (Cetas), que conta com uma nova unidade na Amazônia. A inauguração ocorre no dia 7 de outubro, em Benevides (PA), na região metropolitana de Belém.
A estrutura física do Cetas Benevides já existia, porém não estava em operação e não realizava o acolhimento adequado da fauna do estado. Por meio de um Acordo de Cooperação firmado entre a Proteção Animal Mundial e o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), o espaço foi reformado e agora está pronto para receber animais apreendidos, resgatados ou entregues voluntariamente pela população.
No total, foram mais de R$ 240 mil investidos nas melhorias em oito salas de quarentena, 12 recintos de reabilitação, alojamentos para funcionários e salas administrativas, além da capacitação de mão de obra. Com isso, o local está apto a funcionar e pode atender cerca de 5 mil animais por ano.
Dessa forma, o Pará passa a poder receber animais apreendidos em tráfico de fauna silvestre, como aves, jacarés, cobras, jabutis e aranhas-caranguejeiras. Além disso, os mamíferos aquáticos, como o peixe-boi, também terão local adequado para tratamento e reabilitação. De acordo com a legislação, os animais que atingem condições físicas ou comportamentais necessárias podem retornar para a vida livre, caso contrário são mantidos sob cuidados do Ibama ou instituições parceiras.
Para Rodrigo Gerhardt, gerente de vida silvestre da Proteção Animal Mundial, a inauguração do Cetas no Pará é um marco importante para a conservação da biodiversidade no estado que é historicamente um dos mais afetados pelo desmatamento. De acordo com o MapBiomas, de 2019 a 2024, cerca de 2 milhões de hectares foram desmatados no estado.
“As vidas silvestres devem viver em liberdade e expressando seus comportamentos naturais da espécie com segurança, para cumprir suas funções no ecossistema. No Cetas, os animais vítimas do tráfico, do desmatamento e até do comércio legal de animais passam pelo processo de recuperação com a ajuda de profissionais qualificados, que vão seguir protocolos de manejos adequados para que eles possam se recuperar e ter a chance de retornar à natureza. Por isso, valorizamos muito a parceria com o Ibama”, explica Rodrigo Gerhardt.
Parcerias pela fauna
A reforma do Cetas Benevides é apenas a primeira ação de um conjunto de medidas previstas para garantir o bem-estar animal e a refaunação. A expectativa é que ao longo da vigência do Acordo de Cooperação o espaço conte ainda com um prédio administrativo, um túnel de voo para a reabilitação de aves, novos recintos para diferentes grupos animais e de um laboratório veterinário.
Já a Universidade Federal Rural da Amazônia e o Ibama firmaram Acordo de Cooperação Técnica para que estudantes e residentes do curso de Medicina Veterinária possam atuar como voluntários sob supervisão profissional, garantindo assim a capacitação de recursos humanos especializados e mais pessoal qualificado para o tratamento.
“Dispor de uma estrutura especializada para receber, reabilitar e devolver esses animais à natureza é fundamental para garantir sua sobrevivência. Com o novo Cetas, o Ibama reforça seu compromisso de enfrentar o tráfico de animais silvestres e de assegurar que a riqueza natural do Pará continue sendo um patrimônio do povo brasileiro e das futuras gerações,” ressalta Rodrigo Agostinho, presidente do Ibama.
Além disso, a inauguração de um centro especializado no suporte e tratamento dos animais resgatados permite avanços para a proteção da biodiversidade e a execução de políticas públicas, como a implementação de protocolos de controle sanitário, ampliação da rede de área de soltura de animais silvestres (ASAS) e redução de custos e dos traumas causados pelo deslocamento para outros estados.
“Agora nós temos uma porta de saída para a fauna que é apreendida ou entregue ao Ibama e outros órgãos ambientais. O que acontecia é que o animal não tinha como ser reabilitado efetivamente para ser devolvido à natureza. Com esse Cetas, o animal vai pode ser reabilitado, readequado e apresentar os seus comportamentos naturais, mantendo essas espécies na natureza e cumprindo seu papel ecológico”, destacou Alex Lacerda, superintendente do Ibama no Pará.
As perspectivas para o restante do ano ainda são incertas. A estiagem prolongada, a elevação das temperaturas médias e a pressão por expansão agrícola continuam presentes. Mesmo com a redução dos números em 2025, os dados do ano anterior revelam um padrão preocupante de recorrência e escala. A crise climática exige não apenas respostas emergenciais, mas políticas públicas estruturantes, com investimentos contínuos, fortalecimento institucional, atuação territorializada e vontade política firme.