tamandua andando em meio a arbustos

Tamanduá-bandeira que ficou órfão em atropelamento volta à vida silvestre no Pantanal

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Depois de mais de um ano do seu resgate na BR-262 e de ter perdido a mãe, Manduvi foi reabilitado e retornou à natureza

A paisagem das planícies alagáveis, das áreas de florestas, campos e savanas e dos berçários para diferentes espécies da fauna no Pantanal é uma das mais ameaçadas no Brasil. Em 2024, o bioma teve um aumento de 157% na ocorrência de incêndios, levando à perda de 2,2 milhões de hectares, segundo dados do MapBiomas. A degradação do Pantanal, impulsionada pela expansão da agropecuária industrial nos estados do Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, está por trás da mudança drástica na trajetória de vida de muitos animais da região.

Em junho do ano passado, Manduvi tinha apenas alguns meses e ainda vivia com a mãe, como fazem outros tamanduá-bandeira quando são filhotes e estão aprendendo a lidar com o ambiente e outros bichos. Mas ele não pode crescer livremente porque o habitat natural dessa espécie e outros animais foi alterado pela BR-262, considerada uma das dez rodovias mais letais do país tanto para humanos quanto para a fauna. 

A mãe de Manduvi acabou morta em um dos milhares de atropelamentos que acontecem na rodovia. Uma triste rotina piorada com a influência do fogo, já que a destruição deixa os habitats fragmentados e obriga os animais a circular em áreas de risco de acidentes.

O filhote saiu ferido, mas ganhou uma nova chance junto com outros dois tamanduás-bandeira (Aroeira e Tarumã) - todos com nomes que homenageiam a flora típica do Pantanal. Os três foram encaminhados para o Instituto Tamanduá e acolhidos no projeto Órfãos do Fogo, que promove a reabilitação e a reintrodução de filhotes órfãos na natureza.

No começo, Manduvi era o mais retraído e se assustava com barulhos mais altos. Apesar disso, manteve seu instinto explorador e interagia bem com galhos, pedaços de troncos e outros elementos de enriquecimento ambiental que ajudam a desenvolver suas habilidades de faro e o uso das garras. Uma das suas atividades preferidas era brincar e se alimentar com cupinzeiro.

A evolução de Manduvi foi tão boa que, em janeiro deste ano, foi transferido para o recinto de imersão, construído com o apoio de recursos da Proteção Animal Mundial. A imersão é a última etapa da reabilitação, quando é possível diminuir a interação dos animais com humanos, permitindo que eles vivam em um espaço maior e com mais áreas para forragear, além de interagir com outros bichos e expressar seus comportamentos naturais.

Depois de mais sete meses em imersão, veio mais uma boa notícia. O objetivo foi alcançado e Manduvi pôde ser reintroduzido na natureza no início do mês de setembro. O método utilizado foi o de soltura branda, em que a porta do recinto é aberta e o animal fica livre para sair quando se sente confortável. 

Primeiros passos Manduvi em vida livre

De volta à vida selvagem, ele segue sendo monitorado com o auxílio de um rádio-colete que serve para acompanhar seu estado de saúde, seu comportamento e as áreas exploradas. 

“Possibilitar o retorno de um animal à natureza é algo muito especial. Esses animais dependem do ecossistema para sobreviver, assim como o ambiente depende deles para se manter em equilíbrio. Ver um indivíduo com mais de 20 quilos caminhando em direção à liberdade, em meio à imensidão do Pantanal, transmite a certeza de que estamos seguindo pelo caminho certo”, comenta Júlia Trevisan, coordenadora de Vida Silvestre da Proteção Animal Mundial.⁣

Monitoramento pós soltura

A importância da refaunação

Proteger animais ameaçados e promover a refaunação de áreas naturais são essenciais para garantir o equilíbrio ecológico e a conservação dos biomas. Espécies como os tamanduás-bandeira correm ainda mais risco diante do avanço do desmatamento, dos incêndios florestais e das mudanças climáticas.

A perda de florestas, por exemplo, provoca a perda de habitat e leva ao declínio populacional. Já o aumento da temperatura dificulta suas atividades que são realizadas principalmente em horários de clima mais ameno. Além disso, os focos de incêndio são um grande perigo, já que a espécie não consegue fugir rapidamente, possui baixa visão e tem uma pelagem muito inflamável, tornando-se vítimas fáceis tanto das queimadas quanto de atropelamentos.

Para mudar essa realidade, nós da Proteção Animal Mundial desenvolvemos ações de apoio direto e indireto à conservação da fauna. O apoio a organizações parceiras, como o Instituto Tamanduá, viabiliza a compra de alimentos e medicamentos, a contratação de serviços veterinários e o suporte necessário para adaptação e soltura.

Também estamos à frente de projetos para capacitação de brigadistas em resgate de fauna e de melhorias de condições para a reabilitação de animais silvestres. Conheça o nosso manifesto e apoie à proteção da vida silvestre.

Manifesto em defesa da vida silvestre

Animais silvestres

Assine e ajude a combater a defaunação, protegendo os animais silvestres que sofrem diversos impactos pela ação humana.

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