Tigre volta à exibição pública após tragédia em Zoo de Cascavel

Tigre volta à exibição pública após tragédia em Zoo de Cascavel

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Acidente envolvendo garoto de 11 anos reacendeu debate sobre o confinamento de animais selvagens

Um tigre confinado no Zoológico de Cascavel (PR), chamado Hu, ficou conhecido na última semana devido a um trágico acidente envolvendo um garoto de 11 anos. Câmeras flagraram o menino em área restrita – sem intervenção de um adulto responsável ou de guardas do local – correndo junto à grade, tocando o animal e se pendurando nas barras da jaula, instantes antes de ser atacado. O grave ferimento levou à lamentável amputação do seu braço direito.

Para o garoto, que recebe alta nesta terça-feira (5), começa agora uma nova realidade, com dificuldades e desafios que ele antes não possuía. Já para o animal, a sua realidade seguirá a mesma: isolado por cinco dias para observação, o tigre Hu volta à exibição pública também nesta terça.

O maior felino do mundo retorna ao seu pequeno cativeiro. Lá, apesar de ser um animal selvagem, característico da Ásia, permanecerá em contato constante e involuntário com seres humanos. Exímio caçador na natureza, um dos mais fortes e poucos felinos habituados a nadar, ele será alimentado com pedaços pré-cortados de carne e não poderá alcançar velocidade maior do que a de uma arrancada breve. Privado de caçar, nadar, correr, escalar, se camuflar, acasalar e conhecer outros da mesma espécie, ficará deitado. Ou irá de um lado ao outro dentro da jaula, por toda a sua vida.

Qual o valor educacional dos zoológicos?

O que estamos ensinando ao submetermos um animal a uma jaula que o impossibilita de expressar o seu comportamento natural? Queremos que uma criança cresça com a percepção de que manter preso um animal selvagem não é um problema? Que aquela é uma vida digna? Plena? Isolado e confinado a um recinto que sequer se assemelha ao seu habitat natural? Que aves como os papagaios, que vivem em bando e voam quilômetros diariamente, devem ficar sozinhas em um viveiro de poucos metros? Que espécies monogâmicas, como algumas águias e lobos, podem ser forçadas a subsistir sem parceiros? Ou que um tigre de 230 kg como Hu não precisa de um território amplo e diversificado?

No zoológico, zanzando e dormindo, todos os animais exibem o mesmo comportamento. E isso não tem valor algum.

Santuários e parques ecológicos

Por princípio, a World Animal Protection opõe-se veemente à captura de animais selvagens que sirvam para propósitos não essenciais aos humanos. Isso inclui o confinamento, exibição e performance de animais para fins comerciais ou de entretenimento. Silvestres não devem ser mantidos em zoológicos a não ser que façam parte de um programa de conservação válido, cujo objetivo seja sua reabilitação futura e seu consequentemente retorno à vida selvagem.

Os zoológicos podem cumprir um importante papel para animais resgatados – vindos do circo, por exemplo –, que sofreram maus-tratos, mutilações etc. e que talvez nunca sejam capazes de retornar à natureza. Seja por traumas ou por limitações físicas. No entanto, são poucos os exemplos de estabelecimentos que conseguem realmente atender às necessidades comportamentais da fauna. Mesmo com enriquecimento ambiental, técnica que introduz no recinto elementos do habitat natural e estimula comportamentos comuns da espécie (disponibilizando cordas para macacos se pendurarem, por exemplo), a vida em cativeiro é física e psicologicamente estressante.

O ideal é que cada vez mais os zoológicos sejam substituídos por parques ecológicos e santuários. Esses são modelos que possibilitam, em uma ampla área protegida, observar e estudar animais em liberdade. Uma realidade que Hu, morador do mesmo recinto no Zoo de Cascavel há três anos e meio, talvez nunca conheça.