cop27 egypt 2022

Apesar de pequenas vitórias, COP27 falha no combate às emissões da pecuária industrial intensiva

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Não combater urgentemente as emissões da pecuária industrial intensiva tornará impossível deter e reverter o aquecimento global

De 6 a 18 de novembro, aconteceu a Conferência do Clima da ONU, a COP27, no Egito, e nós estivemos presentes para pedir a transição para um sistema alimentar mais sustentável, que priorize o consumo de proteínas à base de plantas em detrimento à proteína animal.

Apesar dos países signatários da Convenção do Clima acertarem ao reconhecer a pecuária industrial intensiva como uma grande fonte de emissão de gases do efeito estufa, os representantes falharam ao não discutir ações efetivas de combate a essas emissões.

O texto final sobre agricultura representa um pequeno avanço, reconhecendo a contribuição negativa do sistema alimentar atual, as possibilidades de produções mais sustentáveis e a ênfase na segurança alimentar. No entanto, as negociações ainda não apresentaram ações efetivas.

As grandes empresas globais ligadas ao agronegócio, por sua vez, prometeram muito, mas falharam em fornecer estratégias de negócios adequadas para evitar o desmatamento e alinhar as suas atividades ao Acordo de Paris de 2015, limitando o aquecimento global a 1,5°C

“Sem dúvida a COP27 trouxe a produção de alimentos para o centro da agenda climática. A inclusão do agronegócio a e dos sistemas alimentares nas discussões futuras é agora irreversível, embora muito mais precise ser feito para movê-lo para onde precisa estar – próximo ao topo da agenda”, reforça João Gonçalves, diretor interino da organização no Brasil.

“Vários novos países assinaram o compromisso do metano, mas esse compromisso não abrange a maior fonte setorial de emissões de gás - a pecuária. Isso é uma preocupação porque dá carta branca aos grandes produtores de carne para continuar a desmatar florestas para o cultivo de monoculturas, como a soja, voltadas para a produção de ração animal”, completa o executivo, citando o relatório "Mudanças Climáticas e Crueldade Animal" produzido pela Proteção Animal Mundial e entregue aos delegados da COP27.

Lançado um pouco antes da conferência, o relatório avalia os impactos ambientais atribuídos à produção em larga escala de carne de suínos e frangos para o consumo humano em quatro dos maiores produtores do mundo - Brasil, China, Europa (usando dados da Holanda) e Estados Unidos.

Os resultados demonstram que a expansão agropecuária coloca em risco o cumprimento das metas do Acordo de Paris e um futuro seguro para o clima. Para se ter uma ideia, a análise conclui que as emissões de carbono para produzir carne de frango nesses quatro países são equivalentes a manter 29 milhões de carros na estrada por um ano.

A participação da Proteção Animal Mundial no Egito

Temos nos envolvido gradualmente com uma agenda ambiental cada vez mais ampla baseada no conceito “Uma Saúde, Um Bem-Estar”, que estabelece a interdependência entre saúde animal, humana e ambiental. Com essa pauta, a organização promoveu uma série de eventos e exposições nesta COP27, seja como líder ou como coorganizadora ao lado de outras organizações de destaque internacional.

Dois dos mais importantes compromissos capitaneados por nós no Egito têm justamente o Brasil em destaque nas discussões.

No dia 14, durante o dia temático de “Adaptação e Agricultura”, conduzimos, ao lado da Eurogroup For Animals, o evento paralelo  denominado “Promovendo a Transição de Sistemas Agropecuários pela Sustentabilidade e Resiliência Climática”.

Já no dia seguinte, comandamos a mesa  “O Impacto da Produção de Ração Animal no Desmatamento”. O encontro aconteceu no Pavilhão Food4Climate, espaço anexo à COP27 concebido e realizado por múltiplas organizações não governamentais, membros do setor privado e coalizões pelo clima, meio ambiente e saúde.

Em ambos os eventos, nós, em conjunto com a Repórter Brasil, premiada organização não-governamental de jornalismo investigativo, apresentamos os resultados do relatório “Floresta Racionada”, que expõe agricultores do Mato Grosso que expandiram o plantio de soja em áreas desmatadas recentemente na Amazônia e no Cerrado e venderam o grão para fornecedores da JBS para a produção de ração animal.