Tamanduá-bandeira andando em meio à área completamente devastada pelo fogo no Pantanal

Prevenção e combate ao fogo em áreas do Pantanal protegeu pelo menos 275 mil animais em 2021

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Resultado foi possível por meio da atuação conjunta de agentes locais, como o apoio da Proteção Animal Mundial ao Instituto Homem Pantaneiro na Serra do Amolar (MS)

As ações de apoio às atividades de campo do Instituto Homem Pantaneiro (IHP) e sua rede de parceiros para proteger o habitat e a vida silvestre no Pantanal sul-mato-grossense possibilitaram manter a salvo de incêndios pelo menos 275 mil vertebrados em 2021.

Estimamos em pelo menos 275 mil os animais protegidos no Pantanal no ano passado contra ameaças concretas de queimadas, o que é muito animador e revela o potencial da atuação conjunta”, avalia o diretor executivo interino da Proteção Animal Mundial, João Almeida.

“Além da riqueza em termos de biodiversidade, o Pantanal é um dos habitats com maior densidade de animais silvestres por quilômetro quadrado. Um estudo recente, por exemplo, que avaliou a mortalidade de animais durante os incêndios recorde de 2020, calculou a presença de 434 vertebrados por quilômetro quadrado. Isso, todavia, é tido como uma estimativa ainda conservadora”, conta Almeida.

Em 2021, focos de incêndio até chegaram a afetar uma das áreas sob monitoramento do IHP, a Fazenda Santa Teresa, e quase 30% da propriedade foi queimada. Mas, através do emprego de diferentes técnicas, incluindo criação de rotas de fuga, apoio aéreo e combate ao fogo em solo, foi possível proteger 490 km2 de vegetação. Estima-se que, com isso, pelo menos 212 mil vertebrados tenham sido beneficiados.

Onça-pintada registrada por uma trap camera, andando no Pantanal. Imagem em preto e branco com um símbolo de "play" no meio - indicando botão para ver o vídeo.

Tamanduá-bandeira resgatado no Pantanal pelo projeto Órfãos do Fogo

Também entre as medidas preventivas, devido à ameaça de incêndios vindos da Bolívia, foram abertos outros caminhos, não propriamente para parar os incêndios, mas para permitir o acesso de equipes a áreas remotas de onde vinha o fogo, possibilitando assim o combate às chamas naquela região.

Aceiros (técnica de retirada de vegetação em uma faixa de terreno de 3 a 5 metros de largura para bloquear a passagem do fogo) foram abertos em outras duas áreas sob responsabilidade do IHP, as Reservas Particulares do Patrimônio Natural (RPPNs) Rumo ao Oeste e Acurizal. A extensão preservada neste caso foi de 146 km2, com possível impacto positivo para mais de 63 mil vertebrados.

Ao todo, os atores locais estabeleceram 12 diferentes rotas de fuga para animais silvestres na área da Serra do Amolar, que também funcionam como aceiros e têm extensão aproximada de 94 km. Essas vias precisam ser mantidas e limpas para melhorar sua efetividade, e constituem uma das primeiras medidas para proteger os animais de queimaduras e para facilitar sua fuga para áreas livres de incêndios.

Esses caminhos que impedem o avanço dos incêndios estão em quatro das unidades onde o Instituto está atuando ativamente, com área total somada acima de 1.200 km². Desta extensão, no ano passado os trechos mencionados acima foram concretamente protegidos de queimadas pelas medidas e considerados para os cálculos de animais beneficiados. A área restante não chegou a ser ameaçada na temporada.

Durante os incêndios de 2020, 46,5% desta mesma área total foi queimada. O habitat ainda está se recuperando após uma nova temporada de incêndios em 2021 e a pior seca dos últimos 47 anos.

Monitoramento da vida selvagem dá sinais de esperança

Complementando esse trabalho, a parceria possibilitou a aquisição e instalação de armadilhas fotográficas (trap cameras, em inglês) em áreas estratégicas da região da Serra do Amolar e em florestas próximas à cidade de Corumbá. Os equipamentos servem para monitorar o uso das rotas de fuga pelos animais silvestres, bem como as condições de saúde deles.

Em cerca de um mês após a instalação, foram registradas a presença de 32 espécies (entre mamíferos, aves e répteis), dentre as quais algumas estão nas listas vermelhas da União Internacional para a Conservação da Natureza (UICN) e do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) devido ao seu risco de extinção.

Veja o registro de uma onça-pintada e seu filhote andando pelas áreas monitoradas:



“Os registros trazem esperança em termos de alguma recuperação do habitat e de resiliência dos animais às temporadas sucessivas de queimadas e ao ciclo de seca. Isso porque algumas espécies-chave para o ambiente, que são bioindicadoras, como onças, que são predadores de topo, e antas, que são os jardineiros e dispersores de sementes da floresta, foram registradas”, informa o assessor global de bem-estar animal da Proteção Animal Mundial, Roberto Vieto. “O que é melhor é que não registramos somente animais adultos, mas também filhotes, o que dá um sinal bastante positivo”, completa.