Papagaio preso em gaiola - World Animal Protection

Como o papagaio foi parar numa gaiola?

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Araras, periquitos e papagaios passam por uma jornada cruel até chegarem nas casas das pessoas

Toda semana me deparo com uma notícia sobre animais silvestres vítimas de tráfico no Brasil. Uma das mais tristes que li recentemente foi a apreensão de mais de 300 animais no Guarujá (SP).

As imagens são de partir o coração: papagaios-verdadeiros retirados dos seus bandos para “entreter” humanos atrás das grades, assim como araras, tucanos e até ararajubas; mais de 200 filhotinhos de tartarugas-tigres-d’água amontoados em uma bacia e um macaco-prego aprisionado, segurando um bichinho de pelúcia sujo como sua única companhia.

A quadrilha capturava os animais na natureza para vendê-los em todo o Brasil – inclusive pela internet.

E, afinal, de onde vem o loro?

Muita gente não imagina como milhões de animais silvestres vão parar em sites ou nos estabelecimentos onde são vendidos – no Brasil, a maioria vem do tráfico.

Isso quando eles sobrevivem...

Um estudo feito no México mostrou que de 77% a 80% dos chamados psitacídeos – como periquitos, papagaios e araras – morrem durante coleta e/ou transporte. Outras estimativas da América Latina indicam que, de 4 animais comercializados, só 1 sobrevive.

O transporte é geralmente feito em caixas de papelão ou de madeira com centenas de animais em péssimas condições: sem fluxo de ar, em áreas contaminadas com fezes e urina e alimento estragado. Em alguns casos, os animais são anestesiados, colocados dentro de malas, de potes plásticos e até de garrafas plásticas.

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Animais apreendidos durante operação da Polícia Federal no Guarujá (SP) em maio de 2019. Fotos: Polícia Federal.

Nessas situações, o resultado não poderia ser diferente: milhares de animais morrem por falta de comida e água, devido a lesões ou por sufocamento.

Os métodos de captura são igualmente cruéis. Os pássaros podem ser presos em galhos com material colante (técnica chamada “visgo”), ser atraídos para redes, onde acabam emaranhados, ou para as gaiolas de campo, que são armadilhas com vários compartimentos. Já os papagaios e as araras geralmente têm seus ovos ou filhotes roubados.

Cenário difícil, não é?

Parece irresistível – eu sei, os animais brasileiros são mesmo incríveis! Mas será que precisam sofrer tanto? Milhares são ilegalmente retirados das nossas matas, todos os anos, para viverem em gaiolas. Ou morrer no trajeto.

É muito difícil garantir a procedência de um animal silvestre. A quadrilha que falei lá no começo, por exemplo, falsificava notas fiscais para que as vendas aparentassem “dentro da lei”. E num país como o Brasil, em que a natureza está bem no nosso quintal, isso é muito comum.

Se você tem vontade de ter um papagaio, um canário ou uma arara, repense. Lugar de animal silvestre é na natureza!

Junte-se a nós para salvar nossa fauna

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Manifesto “Em defesa da Vida Silvestre”

“Defaunação, não! Refaunação, já!”

Este é um pedido para colocarmos fim à defaunação no Brasil.


Pedimos licença para falar pelos animais silvestres e expor o conjunto de ameaças que acontece dentro de seus habitats naturais.

Elas são muitas e chegam por todos os lados. A partir do momento que os humanos invadem áreas naturais e modificam os ecossistemas, devem se responsabilizar pelos impactos que trazem aos seus habitantes.

O desmatamento é a principal causa da perda de habitats no Brasil. Por meio dele não perdemos só árvores, mas destruímos também o lar e a vida de inúmeros animais. 

Neste momento, está acontecendo uma enorme perda de áreas naturais habitáveis em todos os biomas brasileiros, em especial na Amazônia e no Cerrado – que concentraram 85% do desmatamento do país nos últimos cinco anos, segundo dados do Mapbiomas.

E tem mais: 97% de toda essa área desmatada foi para uso da agropecuária. Florestas, campos e savanas, com as milhões de espécies que abrigam, estão sendo convertidos em monoculturas e pasto, acabando com sua biodiversidade.

Após o desmate, outras agressões ambientais aprofundam as ameaças aos animais silvestres. Como no caso das queimadas para a limpeza de terras que muitas vezes saem de controle e queimam novas áreas nativas, levando à carbonização, asfixia e queima de ninhos e tocas de milhares de espécies, como araras e lobos-guará, afugentando todos os animais que ali vivem e não é só isso.

Após toda devastação e destruição, vem a contaminação por agrotóxicos em lavouras estabelecidas.

Pressionada por esse conjunto de ações humanas que destroem seus habitats, a fauna silvestre, quando não se vê aprisionada em pequenos fragmentos de mata, é expulsa de seus locais de abrigo e alimentação ou obrigada a se deslocar, ficando exposta a atropelamentos em rodovias, ao tráfico de animais, aos conflitos com humanos, à fome e sede.

De acordo com o CBEE (Centro Brasileiro de Estudos de Ecologia de Estradas), estima-se que 15 animais silvestres morram atropelados por segundo no Brasil... Outros tantos, como antas, tamanduás e lobos-guará, para além dos insetos como abelhas e borboletas, adoecem ou morrem envenenados pelos agrotóxicos.

Fugir de seus lares em busca de sobrevivência faz com que os animais fiquem ainda mais vulneráveis à caça e ao comércio de silvestres, que é outra grande ameaça à fauna, sendo legalizado ou não.

Animais silvestres não nasceram para serem transformados em animais de estimação, tampouco para atenderem ao prazer sádico pela caça esportiva ou para entretenimento e selfies.

Infelizmente, a caça de silvestres no Brasil corre risco de ser legalizada, aumentando ainda mais a pressão que vem ocorrendo nos biomas brasileiros.

Os animais não são produtos para serem comercializados. Não podemos deixar que a nossa fauna seja caçada e comercializada para qualquer finalidade.

Nem prisioneiros nem refugiados

A fauna silvestre precisa de ambientes seguros, saudáveis e com espaço suficiente para existir. Como prevê a Constituição Federal, no artigo 225: é proibido práticas que coloquem em risco sua função ecológica, provoquem extinção ou que submetam os animais à crueldade.

Para além de suas funções ecológicas, os animais também são seres sencientes, dotados de sentimentos, inteligência e autonomia. Eles são sujeitos de direitos e não objetos, como muitas legislações brasileiras passaram a reconhecer.

Entre seus direitos, está o da liberdade e o de viver plenamente de acordo com seus comportamentos naturais – e não como animais de estimação.

O desmatamento, a agropecuária industrial e o comércio de animais prejudicam o bem-estar animal e têm levado à defaunação, que é a perda de animais silvestres nos seus habitats naturais.

Refaunação já!

Atuamos para que os animais silvestres vivam em seus habitats, livres da exploração comercial e de ameaças, podendo expressar seus comportamentos naturais. Mas não basta apenas interromper a destruição ou restaurar áreas já desmatadas.

É preciso refaunar e trazer de volta os animais para as florestas!

Florestas vazias não conseguem se manter e prosperar de forma saudável. As soluções para isso já existem.

Por isso, defendemos:

Priorizar a restauração de áreas degradadas para corredores ecológicos da fauna, revertendo a fragmentação de habitats e o isolamento das espécies;

Substituir o modelo agroindustrial baseado em monoculturas e agrotóxicos pela agrofloresta e agroecologia, com uso de bioinsumos, para uma convivência mais harmoniosa e saudável da produção de alimentos com a fauna silvestre;

Tornar obrigatório as passagens de fauna nas rodovias brasileiras;

Incentivar e estruturar o turismo de observação de animais nos roteiros de ecoturismo e turismo regenerativo como alternativas econômicas sustentáveis para comunidades locais, sem a exploração comercial das espécies;

Aprimorar as leis brasileiras para que reconheçam os animais como sujeitos de direitos, sencientes e não objetos.
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