Bezerro preto e branco preso em uma gaiola de metal, longe de sua mãe.

Guia dos Bancos Responsáveis: seu dinheiro pode estar financiando a produção animal intensiva e seu impacto ambiental

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Guia que avalia políticas de responsabilidade socioambientais dos principais bancos brasileiros demonstra que ainda há um grande caminho pela frente e que bem-estar animal é um tema esquecido pelos bancos no país do agronegócio

Foto da imagem do cabeçalho: Amy Jones / Moving Animals

Atualmente, mais de 140 milhões de brasileiros utilizam o sistema bancário para movimentar seu dinheiro, receber o salário, fazer investimentos e empréstimos. Os bancos, por sua vez, são remunerados de várias formas: principalmente pelas tarifas, juros e serviços cobrados. O dinheiro que fica com o banco, então, é repassado para terceiros. No Brasil, um dos principais setores financiados pelos bancos é o agronegócio.  

O agronegócio brasileiro é o grande foco de investimentos no país. O Brasil detém um rebanho bovino que fica em torno de 200 milhões de cabeça de gado - sendo que 22% estão na região Norte do Brasil e 37% no Centro Oeste, áreas que contemplam dois importantes biomas brasileiros. 

Somos também um dos principais produtores e exportadores de frango, alojando anualmente mais de 6 bilhões de frangos e um rebanho de 44 milhões de suínos. E a alimentação destas duas espécies demanda um grande volume de grãos, que se dá principalmente por meio da soja, que é produzida tanto no Cerrado quanto no bioma Amazônico.  

Considerando que o agronegócio representa uma parcela significativa do PIB brasileiro, e que para manter toda a operação são necessárias grandes movimentações financeiras, os bancos são fundamentais para garantir que a produção do nosso alimento seja ética e comprometida com o bem-estar animal. Dessa forma, há urgência para que bancos adotem políticas de financiamento que levem em conta critérios de bem-estar animal para a liberação de empréstimos.    

Ao integrar a coalizão do Guia dos Bancos Responsáveis (Fair Finance Guide Brazil), a Proteção Animal Mundial contribuirá para que a próxima edição do estudo traga uma avaliação independente quanto ao tema de bem-estar animal na avaliação de políticas adotadas pelos bancos brasileiros. Isso irá permitir um diagnóstico mais preciso das políticas de bem-estar animal, além de ser um avanço para os bancos nacionais, tendo em vista que representam 74% dos investimentos na produção de carne e soja.

Em outros países, como a Holanda e a Suécia, onde a Proteção Animal Mundial também é aliada a coalizão local do Guia dos Bancos Responsáveis, esse critério já avaliado de forma independente. Essa avaliação já gerou mudanças por partes dos bancos que refletiram na melhoria do nível de bem-estar de milhões de animais de produção. 

Podemos citar o exemplo do banco holandês Rabobank, que tem ganhado espaço no mercado brasileiro focando suas operações no agronegócio. Em 2018, o Rabobank incluiu de maneira mais clara em sua política de sustentabilidade compromissos específicos para diferentes espécies e sistemas de produção. O banco se compromete, por exemplo, a trabalhar com seus clientes para fazerem a transição para sistemas livres de gaiola para galinhas poedeiras, bem como o alojamento de porcas gestantes em grupo e não mais em gaiolas. 

Temos certeza de que a inclusão do tema de bem-estar animal de maneira independente nos próximos relatórios do Guia dos Bancos Responsáveis trará aos bancos nacionais a oportunidade de se comunicarem de maneira mais transparente com seus clientes sobre a temática, além de incentivar práticas mais éticas e sustentáveis na produção de alimentos no Brasil.  

O Brasil tem um enorme potencial em se destacar nesse quesito, visto que muitas empresas já estão adotando medidas mais robustas e adotando sistemas de criação mais éticos