Cobra naja em meio à natureza

Dia Mundial da Cobra: elas são bons animais de estimação?

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Na semana passada, um estudante de medicina veterinária foi picado por uma cobra naja, um gênero de serpente que não é nativa da fauna brasileira. Esse acidente – que pode ter consequências graves ou até mesmo fatais – levanta dois alertas sobre a criação de cobras como animais de estimação: o tráfico de animais silvestres e exóticos e a ameaça que essa prática representa para os animais e as pessoas.

Na natureza, as najas vivem, em média, 15 anos e passam a maior parte do tempo embaixo de pedras ou em árvores. Na fase adulta, podem chegar a medir até três metros, por isso é tão importante que elas tenham espaço para se esticar.

Isso levanta a questão: as cobras podem ser animais de estimação? Leia nossas  perguntas e respostas antes de responder.

Naja no meio do mato

Foto: Tontatravel-Visualhunt.com

Meu amigo tem uma cobra na sua casa. Isso quer dizer que a cobra é um animal doméstico como meu cão ou gato?

Não, cobras são animais silvestres e não domésticos. O processo de domesticação ocorre ao longo de milhares de anos. Animais como gatos, cães e cavalos foram selecionados, por meio de reprodução, para características específicas que se repetem por muitas gerações.

Acredita-se que os cães tenham sido domesticados entre 27.000 e 40.000 anos atrás. Já os gatos, estima-se que isso tenha acontecido entre 3.600 e 9.500 anos atrás. Como esses animais são domesticados, com cuidados e condições adequadas, podem viver com os seres humanos em cativeiro sem sofrer.

No Canadá, por exemplo, muitas cobras vendidas no chamado “comércio de animais exóticos” vêm diretamente da natureza – principalmente da África Ocidental. Mesmo os animais que são reproduzidos fora da natureza são descendentes de animais que nasceram na natureza. Em uma casa, é impossível replicar o espaço e a liberdades que as cobras têm em seu habitat natural. Como resultado, elas sofrem.

Em cativeiro, as cobras são incapazes de regular naturalmente a temperatura do corpo, as dietas são insuficientes – pois não conseguem buscar sua própria comida –, além de não conseguirem explorar ou se esticar, como fariam na natureza.

Qual o problema em tentar domesticar cobras?

A domesticação de um animal é um processo que levas muitas gerações e ocorre ao longo de centenas ou milhares de anos e esse processo envolve a reprodução seletiva de certos genes.

A reprodução de cobras é perigosa, pois reduz o fundo genético, principalmente quando os criadores acasalam animais que têm parentesco para vender mais. Além disso, as cobras são criadas de maneira intensiva e seletiva para gerarem cores e padrões incomuns, para que os criadores possam vendê-las a um preço mais alto.

A criação seletiva também pode alterar o tamanho natural do animal e causar vários impactos negativos em sua saúde física e mental. Isso é particularmente comum em cobras e outros répteis, já que os compradores querem cada vez mais versões geneticamente selecionadas e que tenham pouca semelhança com seus parentes selvagens.

Mas a minha cobra nasceu em cativeiro. Isso não faz dela uma animal doméstico? 

Não, um animal silvestre nascido em cativeiro não deixa de ser um animal silvestre. Os instintos de um animal silvestre não somem simplesmente por ter nascido fora do seu ambiente natural e selvagem. Esses instintos não desaparecem quando os animais vivem em uma casa, apartamento ou qualquer tipo de cativeiro.

Mesmo em cativeiro, o animal silvestre continua sendo silvestre. Ele continua com seu instinto natural de se afastar de uma fonte de calor quando está muito quente, ou de se mover em direção a uma fonte de calor quando está frio, e com o instinto natural de caçar e se esconder.

Para animais como as cobras, é difícil reconhecer sinais de doença ou sofrimento. Mesmo que você encontre um veterinário com experiência e treinamento para tratar cobras, ele pode ter dificuldades em diagnosticar as doenças do animal.

Como resultado do estresse, estima-se que 75% das cobras em cativeiro morram dentro de um ano.*

Independente da cobra ter nascido em cativeiro ou ser originária da natureza, ela sofre em cativeiro.

Estou confuso. É melhor comprar uma compra nascida em cativeiro ou na natureza?

Nenhum dos dois! Independentemente de onde a cobra nasceu, ela irá sofrer imensamente se não estiver na natureza.

Quando são capturados na natureza, os animais são expostos a manuseios físicos estressantes e acabam se ferindo – isso sem contar o estresse e as altas taxas de mortalidade durante o transporte, armazenamento e processamento.

As taxas de mortalidade estimadas para répteis capturados na natureza variam de 5% a 100% e de 5% a 25% para espécies criadas em cativeiro. Já a taxa de mortalidade estimada de um criador de répteis é de 72%. Oitenta por cento dos animais observados nas instalações de criadores estavam doentes ou morrendo – representando mais de 3.000 animais em um período de seis semanas.

Qual a melhor coisa que eu posso fazer para proteger esses animais?  

A primeira coisa que você pode fazer é assinar o manifesto abaixo.

Depois disso, tire um tempo para navegar no nosso site e aprender mais sobre o comércio de animais silvestres. Além disso, você sempre pode proteger os animais compartilhando com sua família, amigos e colegas de trabalho a importante mensagem de que animais silvestres devem permanecer na natureza.

Junte-se a nós para salvar nossa fauna

Assine o manifesto em defesa da vida silvestre.

Ao enviar este formulário, concordo em receber mais comunicações da Proteção Animal Mundial e entendo que posso desistir a qualquer momento.

Saiba como usamos seus dados e como os mantemos seguros: Política de Privacidade.

Manifesto “Em defesa da Vida Silvestre”

“Defaunação, não! Refaunação, já!”

Este é um pedido para colocarmos fim à defaunação no Brasil.


Pedimos licença para falar pelos animais silvestres e expor o conjunto de ameaças que acontece dentro de seus habitats naturais.

Elas são muitas e chegam por todos os lados. A partir do momento que os humanos invadem áreas naturais e modificam os ecossistemas, devem se responsabilizar pelos impactos que trazem aos seus habitantes.

O desmatamento é a principal causa da perda de habitats no Brasil. Por meio dele não perdemos só árvores, mas destruímos também o lar e a vida de inúmeros animais. 

Neste momento, está acontecendo uma enorme perda de áreas naturais habitáveis em todos os biomas brasileiros, em especial na Amazônia e no Cerrado – que concentraram 85% do desmatamento do país nos últimos cinco anos, segundo dados do Mapbiomas.

E tem mais: 97% de toda essa área desmatada foi para uso da agropecuária. Florestas, campos e savanas, com as milhões de espécies que abrigam, estão sendo convertidos em monoculturas e pasto, acabando com sua biodiversidade.

Após o desmate, outras agressões ambientais aprofundam as ameaças aos animais silvestres. Como no caso das queimadas para a limpeza de terras que muitas vezes saem de controle e queimam novas áreas nativas, levando à carbonização, asfixia e queima de ninhos e tocas de milhares de espécies, como araras e lobos-guará, afugentando todos os animais que ali vivem e não é só isso.

Após toda devastação e destruição, vem a contaminação por agrotóxicos em lavouras estabelecidas.

Pressionada por esse conjunto de ações humanas que destroem seus habitats, a fauna silvestre, quando não se vê aprisionada em pequenos fragmentos de mata, é expulsa de seus locais de abrigo e alimentação ou obrigada a se deslocar, ficando exposta a atropelamentos em rodovias, ao tráfico de animais, aos conflitos com humanos, à fome e sede.

De acordo com o CBEE (Centro Brasileiro de Estudos de Ecologia de Estradas), estima-se que 15 animais silvestres morram atropelados por segundo no Brasil... Outros tantos, como antas, tamanduás e lobos-guará, para além dos insetos como abelhas e borboletas, adoecem ou morrem envenenados pelos agrotóxicos.

Fugir de seus lares em busca de sobrevivência faz com que os animais fiquem ainda mais vulneráveis à caça e ao comércio de silvestres, que é outra grande ameaça à fauna, sendo legalizado ou não.

Animais silvestres não nasceram para serem transformados em animais de estimação, tampouco para atenderem ao prazer sádico pela caça esportiva ou para entretenimento e selfies.

Infelizmente, a caça de silvestres no Brasil corre risco de ser legalizada, aumentando ainda mais a pressão que vem ocorrendo nos biomas brasileiros.

Os animais não são produtos para serem comercializados. Não podemos deixar que a nossa fauna seja caçada e comercializada para qualquer finalidade.

Nem prisioneiros nem refugiados

A fauna silvestre precisa de ambientes seguros, saudáveis e com espaço suficiente para existir. Como prevê a Constituição Federal, no artigo 225: é proibido práticas que coloquem em risco sua função ecológica, provoquem extinção ou que submetam os animais à crueldade.

Para além de suas funções ecológicas, os animais também são seres sencientes, dotados de sentimentos, inteligência e autonomia. Eles são sujeitos de direitos e não objetos, como muitas legislações brasileiras passaram a reconhecer.

Entre seus direitos, está o da liberdade e o de viver plenamente de acordo com seus comportamentos naturais – e não como animais de estimação.

O desmatamento, a agropecuária industrial e o comércio de animais prejudicam o bem-estar animal e têm levado à defaunação, que é a perda de animais silvestres nos seus habitats naturais.

Refaunação já!

Atuamos para que os animais silvestres vivam em seus habitats, livres da exploração comercial e de ameaças, podendo expressar seus comportamentos naturais. Mas não basta apenas interromper a destruição ou restaurar áreas já desmatadas.

É preciso refaunar e trazer de volta os animais para as florestas!

Florestas vazias não conseguem se manter e prosperar de forma saudável. As soluções para isso já existem.

Por isso, defendemos:

Priorizar a restauração de áreas degradadas para corredores ecológicos da fauna, revertendo a fragmentação de habitats e o isolamento das espécies;

Substituir o modelo agroindustrial baseado em monoculturas e agrotóxicos pela agrofloresta e agroecologia, com uso de bioinsumos, para uma convivência mais harmoniosa e saudável da produção de alimentos com a fauna silvestre;

Tornar obrigatório as passagens de fauna nas rodovias brasileiras;

Incentivar e estruturar o turismo de observação de animais nos roteiros de ecoturismo e turismo regenerativo como alternativas econômicas sustentáveis para comunidades locais, sem a exploração comercial das espécies;

Aprimorar as leis brasileiras para que reconheçam os animais como sujeitos de direitos, sencientes e não objetos.

 

*Warwick, C. The Morality of the Reptile “Pet” Trade. J. Anim. Ethics 2014, 4, 74–94; Ashley, S.; Brown, S.; Ledford, J.; Martin, J.; Nash, A. E.; Terry, A.; Tristan, T.; Warwick, C. Morbidity and

*Mortality of Invertebrates, Amphibians, Reptiles, and Mammals at a Major Exotic Companion Animal Wholesaler. J. Appl. Anim. Welf. Sci. 2014, 17, 308–321.

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