Equipe fazendo os preparativos para colocação de colar na tamanduá-bandeira Cecília

O papel da refaunação na recuperação ambiental

Notícias

Saiba como a refaunação e reabilitação de animais silvestres são essenciais para a recuperação ambiental e preservação da biodiversidade afetada por incêndios e desmatamento no Brasil

Nos noticiários, vemos imagens impactantes de animais completamente carbonizados, com queimaduras graves pelo corpo, ou sendo resgatados e recebendo cuidados dos brigadistas. Embora essas cenas já sejam profundamente perturbadoras, as consequências da defaunação vão muito além do sofrimento animal. A temporada de incêndios florestais, que assola o país, tem afetado inúmeros animais silvestres, provocando o devastador fenômeno da defaunação, a perda de fauna em seu habitat natural. 

A fauna silvestre desempenha um papel crucial na saúde das florestas, exercendo diversas funções ecológicas e interagindo continuamente com a vegetação. Por meio de atividades como a polinização e a dispersão de sementes, os animais são fundamentais para a manutenção da composição vegetal. Quando ocorre a defaunação, toda a dinâmica do ecossistema é comprometida, afetando negativamente o equilíbrio e a regeneração do ambiente. 

Assine o Manifesto em defesa da vida silvestre

Quando um animal silvestre come uma fruta, ele também ingere suas sementes, que mais tarde serão expelidas ao longo do seu percurso. Esse simples processo de digestão garante que as sementes sejam transportadas para longe da planta-mãe, uma tarefa impossível de ser realizada pela própria planta. Essa interação entre animais e plantas é comum entre muitas espécies de aves e mamíferos, e pode ser ainda mais específica, como no caso do lobo-guará (Chrysocyon brachyurus) e da fruta-do-lobo ou lobeira (Solanum lycocarpum), uma planta característica do Cerrado que ganhou esse nome por ser essencial na dieta do lobo-guará. Curiosamente, as sementes da lobeira apresentam uma maior taxa de germinação após serem defecadas pelo animal, evidenciando o lobo-guará como um dispersor fundamental para essa espécie. Fruto-do-lobo ou lobeira (Solanum lycocarpum)

Fruto-do-lobo ou lobeira (Solanum lycocarpum)

O lobo-guará é o maior canídeo da América do Sul e infelizmente corre risco de extinção. Esse animal emblemático habita o Cerrado, um bioma que vem sendo intensamente convertido em pastagens e monoculturas de soja. Nos últimos 39 anos, o Cerrado perdeu cerca de 27% de sua cobertura nativa, e, de acordo com o MapBiomas, 97% das áreas desmatadas no Brasil foram pressionadas pelo setor agropecuário. Este ano, a situação se agrava ainda mais com a intensificação dos incêndios. Quando uma área natural é queimada, toda uma geração de filhotes, ovos prestes a eclodir e recém-nascidos é perdida, resultando em uma defaunação generalizada que causa danos irreversíveis a longo prazo. 

Além de introduzir um novo termo para descrever o triste processo de perda da fauna silvestre, existe também o conceito de refaunação. Esse movimento inverso busca aumentar as populações de animais silvestres em vida livre, permitindo a recuperação da biodiversidade. A refaunação prova que é possível devolver os animais ao seu habitat natural. Grandes aliados nesse processo são a restauração ambiental e a reabilitação de animais silvestres, que, após cuidados especializados, podem retornar à natureza e contribuir para o equilíbrio dos ecossistemas. 

Xamã, filhote de onça-pintada resgatado próximo a uma queimada em Mato GrossoXamã, filhote de onça-pintada resgatado próximo a uma queimada em Mato Grosso

A restauração ambiental recria as condições adequadas para o retorno da fauna, proporcionando um ambiente favorável à reprodução das espécies nativas. Nesse processo, a interação entre plantas e animais é novamente crucial, pois ambos se beneficiam mutuamente. Por isso, é essencial que políticas públicas sejam implementadas para incorporar a fauna silvestre como um indicador da qualidade em projetos de restauração ambiental no país. Assim como determinadas plantas são usadas para medir o progresso da recuperação de uma área, a presença e o comportamento da fauna também são sinais importantes da qualidade ambiental. 

Já a reabilitação é um processo longo e cuidadoso, no qual o animal resgatado precisa reaprender os comportamentos naturais de sua espécie para sobreviver na natureza. Embora seja um procedimento complexo, é de vital importância para a saúde floresta e garante uma segunda chance ao indivíduo que por diversos motivos foi retirado do seu habitat. 

O Dia Mundial da Defesa da Fauna (celebrado em 22 de setembro) destaca a necessidade urgente de reflexão e ação. Estamos prejudicando os animais nos seus habitats naturais, levando diversas espécies à extinção e acabando com a cobertura nativa mais biodiversa do mundo. Assim como o Cerrado, outros biomas brasileiros estão sofrendo defaunação pela expansão da atividade agropecuária. Apoiar organizações que defendem a fauna é fundamental, assim como escolher candidatos que realmente se comprometam com a proteção ambiental e animal. Devemos também nos manifestar publicamente contra o desmatamento e exigir um combate mais rigoroso aos crimes ambientais. Devemos lembrar que os animais silvestres têm o direito de ter uma vida digna exercendo suas funções ecológicas sem interferência humana, como prevê o Art. 225 da Constituição Federal. 

Junte-se a nós para salvar nossa fauna

Ajude a combater os impactos da agropecuária industrial. Assine o manifesto em defesa da vida silvestre.

Ao enviar este formulário, concordo em receber mais comunicações da Proteção Animal Mundial e entendo que posso desistir a qualquer momento.

Saiba como usamos seus dados e como os mantemos seguros: Política de Privacidade.

Manifesto “Em defesa da Vida Silvestre”

“Defaunação, não! Refaunação, já!”

Este é um pedido para colocarmos fim à defaunação no Brasil.


Pedimos licença para falar pelos animais silvestres e expor o conjunto de ameaças que acontece dentro de seus habitats naturais.

Elas são muitas e chegam por todos os lados. A partir do momento que os humanos invadem áreas naturais e modificam os ecossistemas, devem se responsabilizar pelos impactos que trazem aos seus habitantes.

O desmatamento é a principal causa da perda de habitats no Brasil. Por meio dele não perdemos só árvores, mas destruímos também o lar e a vida de inúmeros animais. 

Neste momento, está acontecendo uma enorme perda de áreas naturais habitáveis em todos os biomas brasileiros, em especial na Amazônia e no Cerrado – que concentraram 85% do desmatamento do país nos últimos cinco anos, segundo dados do Mapbiomas.

E tem mais: 97% de toda essa área desmatada foi para uso da agropecuária. Florestas, campos e savanas, com as milhões de espécies que abrigam, estão sendo convertidos em monoculturas e pasto, acabando com sua biodiversidade.

Após o desmate, outras agressões ambientais aprofundam as ameaças aos animais silvestres. Como no caso das queimadas para a limpeza de terras que muitas vezes saem de controle e queimam novas áreas nativas, levando à carbonização, asfixia e queima de ninhos e tocas de milhares de espécies, como araras e lobos-guará, afugentando todos os animais que ali vivem e não é só isso.

Após toda devastação e destruição, vem a contaminação por agrotóxicos em lavouras estabelecidas.

Pressionada por esse conjunto de ações humanas que destroem seus habitats, a fauna silvestre, quando não se vê aprisionada em pequenos fragmentos de mata, é expulsa de seus locais de abrigo e alimentação ou obrigada a se deslocar, ficando exposta a atropelamentos em rodovias, ao tráfico de animais, aos conflitos com humanos, à fome e sede.

De acordo com o CBEE (Centro Brasileiro de Estudos de Ecologia de Estradas), estima-se que 15 animais silvestres morram atropelados por segundo no Brasil... Outros tantos, como antas, tamanduás e lobos-guará, para além dos insetos como abelhas e borboletas, adoecem ou morrem envenenados pelos agrotóxicos.

Fugir de seus lares em busca de sobrevivência faz com que os animais fiquem ainda mais vulneráveis à caça e ao comércio de silvestres, que é outra grande ameaça à fauna, sendo legalizado ou não.

Animais silvestres não nasceram para serem transformados em animais de estimação, tampouco para atenderem ao prazer sádico pela caça esportiva ou para entretenimento e selfies.

Infelizmente, a caça de silvestres no Brasil corre risco de ser legalizada, aumentando ainda mais a pressão que vem ocorrendo nos biomas brasileiros.

Os animais não são produtos para serem comercializados. Não podemos deixar que a nossa fauna seja caçada e comercializada para qualquer finalidade.

Nem prisioneiros nem refugiados

A fauna silvestre precisa de ambientes seguros, saudáveis e com espaço suficiente para existir. Como prevê a Constituição Federal, no artigo 225: é proibido práticas que coloquem em risco sua função ecológica, provoquem extinção ou que submetam os animais à crueldade.

Para além de suas funções ecológicas, os animais também são seres sencientes, dotados de sentimentos, inteligência e autonomia. Eles são sujeitos de direitos e não objetos, como muitas legislações brasileiras passaram a reconhecer.

Entre seus direitos, está o da liberdade e o de viver plenamente de acordo com seus comportamentos naturais – e não como animais de estimação.

O desmatamento, a agropecuária industrial e o comércio de animais prejudicam o bem-estar animal e têm levado à defaunação, que é a perda de animais silvestres nos seus habitats naturais.

Refaunação já!

Atuamos para que os animais silvestres vivam em seus habitats, livres da exploração comercial e de ameaças, podendo expressar seus comportamentos naturais. Mas não basta apenas interromper a destruição ou restaurar áreas já desmatadas.

É preciso refaunar e trazer de volta os animais para as florestas!

Florestas vazias não conseguem se manter e prosperar de forma saudável. As soluções para isso já existem.

Por isso, defendemos:

Priorizar a restauração de áreas degradadas para corredores ecológicos da fauna, revertendo a fragmentação de habitats e o isolamento das espécies;

Substituir o modelo agroindustrial baseado em monoculturas e agrotóxicos pela agrofloresta e agroecologia, com uso de bioinsumos, para uma convivência mais harmoniosa e saudável da produção de alimentos com a fauna silvestre;

Tornar obrigatório as passagens de fauna nas rodovias brasileiras;

Incentivar e estruturar o turismo de observação de animais nos roteiros de ecoturismo e turismo regenerativo como alternativas econômicas sustentáveis para comunidades locais, sem a exploração comercial das espécies;

Aprimorar as leis brasileiras para que reconheçam os animais como sujeitos de direitos, sencientes e não objetos.
Saiba mais