Cinco papagaios verdes presos, em uma gaiola de metal, em um pet shop

Silvestre como animal de estimação: um hábito que gera sofrimento animal e desequilíbrio na natureza

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Retirados da natureza ou nascidos em criadouros autorizados, esses animais não passaram pelo processo de domesticação para uma vida em cativeiro. Legais ou ilegais, eles sofrem

Nos primeiros anos após a chegada dos portugueses ao nosso litoral, o país ainda não era chamado Brasil. Entre os tantos nomes que foram dados para o novo território, você, com certeza, já ouviu falar nas aulas de História na escola que já fomos chamados de Ilha de Vera Cruz e de Terra de Santa Cruz.

Mas sabia que o Brasil já foi chamado de Terra dos Papagaios? É isso mesmo: Terra dos Papagaios.

Isso foi logo nos primeiros anos e durou até pouco mais de 1520. E tudo por causa dos papagaios e araras que, a cada expedição enviada ao Brasil, eram levados para serem vendidos na Europa. O hábito de criar animais silvestres como bichos de estimação já existia por lá.

Papagaio verde em um galho, na natureza

Para manter o comércio de animais silvestres de estimação funcionando, milhares de papagaios sofrem - e morrem.

Existia na Europa e também entre os índios que viviam por aqui. Ou seja, desde sempre, na história do Brasil, os animais silvestres são criados como animais de estimação. Somente em 1967, quando entrou em vigor a chama Lei de Proteção à Fauna (lei nº 5.197) é que o poder público passou a controlar um pouco a captura e o comércio desses animais para o mercado de bichos de estimação.

Durante centenas de anos, criar um passarinho na gaiola, um papagaio no poleiro ou um macaco, por exemplo, nunca foi controlado. É por isso que muita gente ainda acha normal ter esse tipo de animal em casa. As pessoas não sabem o mal que estão fazendo para seus bichos de estimação e para o equilíbrio do meio ambiente.

Animais silvestres, ou animais selvagens, são aqueles de espécies que não passaram pelo longo processo de domesticação como os cães e os gatos. Eles não estão adaptados a viver no ambiente dos homens e, por isso, sofrem - tenham eles nascidos em cativeiro ou sido capturados na natureza.

Perceba que não é porque o seu passarinho, papagaio ou outro animal nasceu em um criadouro e você o comprou com nota fiscal e tudo que a legislação determina que ele não sofre. Ele tem necessidades que jamais serão satisfeitas durante toda uma vida em uma gaiola ou viveiro. Dependendo da espécie, ele precisa voar, viver entre os da sua espécie, ter estímulos diferentes todos os dias, uma dieta variada e se acasalar, por exemplo.

E você vai conseguir dar tudo isso a ele? Claro que não. Lembre-se: carinho e atenção não são o suficiente.

Se o animal foi capturado na natureza, ou seja, vítima do tráfico de fauna, a situação é ainda pior. Afinal, além da questão do sofrimento, eles estão deixando de cumprir suas funções ecológicas nos lugares onde deveriam estar vivendo.

Compliquei?

É simples. Cada a animal silvestre tem vários papéis a serem cumpridos e, assim, ajudam a manter o equilíbrio da natureza. Os papagaios, por exemplo, são grandes semeadores de florestas e matas nativas. Eles comem frutas e engolem sementes que, depois, serão espalhadas através das fezes deles. Dessa maneira, eles ajudam a plantar novas árvores e a manter a floresta viva.

Papagaio verde em um galho, na natureza

Quem ama os animais deixa os selvagens na natureza. (Foto: Pixabay)

E com florestas saudáveis, temos água. Isso mesmo, água para nós bebermos e para a utilização na agricultura e em outras atividades econômicas. E com florestas saudáveis, os impactos das mudanças climáticas são bem menores.

Está vendo como esse negócio de criar animal silvestre como bicho de estimação tem consequências sérias? Lembre-se disso se, um dia, você estiver decidindo ter um em sua casa.

Junte-se a nós para salvar nossa fauna

Assine o manifesto em defesa da vida silvestre.

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Manifesto “Em defesa da Vida Silvestre”

“Defaunação, não! Refaunação, já!”

Este é um pedido para colocarmos fim à defaunação no Brasil.


Pedimos licença para falar pelos animais silvestres e expor o conjunto de ameaças que acontece dentro de seus habitats naturais.

Elas são muitas e chegam por todos os lados. A partir do momento que os humanos invadem áreas naturais e modificam os ecossistemas, devem se responsabilizar pelos impactos que trazem aos seus habitantes.

O desmatamento é a principal causa da perda de habitats no Brasil. Por meio dele não perdemos só árvores, mas destruímos também o lar e a vida de inúmeros animais. 

Neste momento, está acontecendo uma enorme perda de áreas naturais habitáveis em todos os biomas brasileiros, em especial na Amazônia e no Cerrado – que concentraram 85% do desmatamento do país nos últimos cinco anos, segundo dados do Mapbiomas.

E tem mais: 97% de toda essa área desmatada foi para uso da agropecuária. Florestas, campos e savanas, com as milhões de espécies que abrigam, estão sendo convertidos em monoculturas e pasto, acabando com sua biodiversidade.

Após o desmate, outras agressões ambientais aprofundam as ameaças aos animais silvestres. Como no caso das queimadas para a limpeza de terras que muitas vezes saem de controle e queimam novas áreas nativas, levando à carbonização, asfixia e queima de ninhos e tocas de milhares de espécies, como araras e lobos-guará, afugentando todos os animais que ali vivem e não é só isso.

Após toda devastação e destruição, vem a contaminação por agrotóxicos em lavouras estabelecidas.

Pressionada por esse conjunto de ações humanas que destroem seus habitats, a fauna silvestre, quando não se vê aprisionada em pequenos fragmentos de mata, é expulsa de seus locais de abrigo e alimentação ou obrigada a se deslocar, ficando exposta a atropelamentos em rodovias, ao tráfico de animais, aos conflitos com humanos, à fome e sede.

De acordo com o CBEE (Centro Brasileiro de Estudos de Ecologia de Estradas), estima-se que 15 animais silvestres morram atropelados por segundo no Brasil... Outros tantos, como antas, tamanduás e lobos-guará, para além dos insetos como abelhas e borboletas, adoecem ou morrem envenenados pelos agrotóxicos.

Fugir de seus lares em busca de sobrevivência faz com que os animais fiquem ainda mais vulneráveis à caça e ao comércio de silvestres, que é outra grande ameaça à fauna, sendo legalizado ou não.

Animais silvestres não nasceram para serem transformados em animais de estimação, tampouco para atenderem ao prazer sádico pela caça esportiva ou para entretenimento e selfies.

Infelizmente, a caça de silvestres no Brasil corre risco de ser legalizada, aumentando ainda mais a pressão que vem ocorrendo nos biomas brasileiros.

Os animais não são produtos para serem comercializados. Não podemos deixar que a nossa fauna seja caçada e comercializada para qualquer finalidade.

Nem prisioneiros nem refugiados

A fauna silvestre precisa de ambientes seguros, saudáveis e com espaço suficiente para existir. Como prevê a Constituição Federal, no artigo 225: é proibido práticas que coloquem em risco sua função ecológica, provoquem extinção ou que submetam os animais à crueldade.

Para além de suas funções ecológicas, os animais também são seres sencientes, dotados de sentimentos, inteligência e autonomia. Eles são sujeitos de direitos e não objetos, como muitas legislações brasileiras passaram a reconhecer.

Entre seus direitos, está o da liberdade e o de viver plenamente de acordo com seus comportamentos naturais – e não como animais de estimação.

O desmatamento, a agropecuária industrial e o comércio de animais prejudicam o bem-estar animal e têm levado à defaunação, que é a perda de animais silvestres nos seus habitats naturais.

Refaunação já!

Atuamos para que os animais silvestres vivam em seus habitats, livres da exploração comercial e de ameaças, podendo expressar seus comportamentos naturais. Mas não basta apenas interromper a destruição ou restaurar áreas já desmatadas.

É preciso refaunar e trazer de volta os animais para as florestas!

Florestas vazias não conseguem se manter e prosperar de forma saudável. As soluções para isso já existem.

Por isso, defendemos:

Priorizar a restauração de áreas degradadas para corredores ecológicos da fauna, revertendo a fragmentação de habitats e o isolamento das espécies;

Substituir o modelo agroindustrial baseado em monoculturas e agrotóxicos pela agrofloresta e agroecologia, com uso de bioinsumos, para uma convivência mais harmoniosa e saudável da produção de alimentos com a fauna silvestre;

Tornar obrigatório as passagens de fauna nas rodovias brasileiras;

Incentivar e estruturar o turismo de observação de animais nos roteiros de ecoturismo e turismo regenerativo como alternativas econômicas sustentáveis para comunidades locais, sem a exploração comercial das espécies;

Aprimorar as leis brasileiras para que reconheçam os animais como sujeitos de direitos, sencientes e não objetos.
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