Confira quais são os caminhos para aumentar o bem-estar animal e conter a resistência antimicrobiana.
Vamos começar com um exercício: imagine-se abrindo as portas de uma fazenda industrial intensiva por um momento. O que você vê?
Na realidade, a imagem é triste: são fileiras e mais fileiras de matrizes suínas famintas, com o olhar fixo para fora de suas gaiolas individuais e com os ombros feridos por se esfregarem contra o chão duro.
Em uma granja de frangos, você sente o cheiro de amônia de milhares de aves geneticamente semelhantes, espremidas, sob uma luz artificial desagradável, exauridas e com sérios problemas de locomoção.
Anualmente, mais de 70 bilhões de animais são criados para a produção de alimentos – dois terços deles vivem em condições que lhes impossibilitam se mover livremente ou viver de maneira natural.
Por volta do ano de 2050, a produção agropecuária será o dobro da registrada em 2000. É justamente para esse ano que a OMS projeta 10 milhões de mortes humanas anuais devido a infecções hospitalares por bactérias resistentes aos antibióticos.
O uso frequente de antibióticos na pecuária industrial intensiva é um dos pontos críticos da falta de bem-estar dos animais de fazenda. Ele tem servido como um paliativo para compensar e mascarar todas as falhas no bem-estar a que os animais estão expostos, como desmame precoce, baias e galpões superlotados, ausência de enriquecimento ambiental para os animais expressarem seus comportamentos naturais e muito mais. É sabido que animais de produção em sistemas com níveis mais altos de bem-estar apresentam menos estresse e melhor imunidade e resiliência a doenças. Isso, por sua vez, diminui a necessidade de antibióticos.
“Dentro dos galpões fechados, os frangos crescem tão rápido que têm dificuldade para caminhar ou permanecer em pé por períodos longos. Já os leitões são desmamados precocemente e rotineiramente submetidos a práticas de mutilação, como corte de cauda, dente, mossa e castração cirúrgica. Bilhões de animais nascidos em fazendas industriais atravessam a vida nessas condições. Isso pode até fornecer carne a baixo custo para as pessoas, mas nós também já estamos pagando o preço com nossa saúde”, afirma Daniel Cruz, coordenador de Agropecuária Sustentável da Proteção Animal Mundial.
E como conter a resistência antimicrobiana proveniente do uso indiscriminado de antibióticos em animais de fazendas industriais?
Com a campanha "Haja Estômago!", queremos mostrar que não há futuro para o sistema industrial intensivo. Entre as mudanças sistêmicas que acreditamos ser necessárias para alcançarmos ganhos maiores de saúde para a população, estão:
- Reorientar os subsídios da pecuária industrial intensiva para práticas humanas e sustentáveis;
- Apoiar esforços para reduzir significativamente a produção e o consumo de carne e laticínios em países com alta média de consumo por pessoa;
- Melhorar a acessibilidade dos alimentos à base de plantas;
- Fornecer apoio à transição de agricultores que desejam substituir o sistema industrial intensivo pelo sistema com altos níveis de bem-estar animal
A campanha “Haja Estômago!” mostra que não há futuro para a pecuária industrial intensiva. Estamos pedindo aos governos de todo o mundo que imponham uma moratória nas fazendas industriais, além de introduzir e aplicar padrões mais altos de bem-estar na criação de animais.
Para saber mais sobre a campanha, acesse a página www.hajaestomago.com.br.
A falta de um tratamento adequado dos animais de produção é hoje o maior problema enfrentado para o bem-estar dos animais no mundo. E ele vem se agravando.