um macaquinho olhando por trás de uma gaiola

Tráfico de animais silvestres: o crime ambiental que ameaça o futuro da vida no Brasil

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Descubra como o comércio ilegal de fauna ameaça a biodiversidade brasileira e conheça as ações da Proteção Animal Mundial que ajudam a devolver a liberdade aos animais.

Um país que perde suas asas

Dentro de uma caixa de papelão, em uma feira clandestina do interior do Brasil, uma arara-azul tenta abrir as asas cortadas. Ela não entende o motivo de não poder voar. O som das vozes e o calor do sol se misturam ao medo. Cada olhar curioso é o reflexo de uma ferida coletiva: a da natureza transformada em mercadoria.

Cenas como essa se repetem todos os dias em feiras, beiras de estrada e plataformas digitais.

O tráfico de animais silvestres é um dos crimes ambientais mais silenciosos, porém devastadores. Ele movimenta bilhões de reais todos os anos e causa um sofrimento incalculável para milhões de animais que deveriam estar livres, não confinados em gaiolas ou vitrines.

O que é o tráfico de animais silvestres e por que o Brasil é um dos epicentros mundiais

O tráfico de fauna silvestre é a captura, o transporte e a comercialização ilegal de animais retirados da natureza. Segundo a Rede Nacional de Combate ao Tráfico de Animais Silvestres (Renctas), cerca de 38 milhões de animais são retirados dos biomas brasileiros a cada ano e 90% morrem antes de chegar ao destino final.

Foto: Noelly Castro/Proteção Animal Mundial 

O Brasil abriga aproximadamente 20% da biodiversidade global, o que o torna um alvo prioritário para as redes criminosas que abastecem mercados nacionais e internacionais. Amazônia, Cerrado, Caatinga e Pantanal estão entre as regiões mais afetadas. Nessas áreas, a captura ilegal ameaça o equilíbrio ecológico e a sobrevivência de espécies endêmicas.

Saiba mais: Silvestre não é pet: por que manter animais silvestres em casa é cruel e perigoso

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A dimensão global do comércio ilegal de fauna

De acordo com o Relatório Mundial sobre Crimes contra a Vida Selvagem (UNODC, 2024), o tráfico de fauna movimenta entre 10 e 20 bilhões de dólares por ano e figura entre os cinco crimes mais rentáveis do planeta, ao lado do tráfico de drogas, armas, pessoas e minérios.

A América Latina é uma das principais rotas do comércio ilegal de fauna, e o Brasil atua como corredor estratégico entre o continente e o mercado internacional. Animais capturados na Amazônia e no Cerrado são transportados para grandes centros urbanos, falsificados com registros de cativeiro e exportados para a Ásia, Europa e América do Norte.

Foto: Noelly Castro/Proteção Animal Mundial 

Como o tráfico de fauna silvestre destrói ecossistemas inteiros

O comércio ilegal de fauna não causa apenas sofrimento individual, mas também desestrutura ecossistemas inteiros. Cada tamanduá, onça, ave ou tartaruga retirada da natureza compromete o equilíbrio ambiental, reduz a regeneração florestal e impacta processos naturais como a polinização e a dispersão de sementes.

Os impactos são especialmente graves na Amazônia, Cerrado e Caatinga, onde o tráfico se soma a outros crimes ambientais, como o desmatamento e as queimadas.

Quando a fauna desaparece, as florestas perdem sua capacidade de se regenerar e os efeitos da crise climática se intensificam.

Leia também: Queimadas e vida silvestre: quando o fogo destrói o lar dos animais

Panorama do tráfico de animais silvestres no Brasil

  1. 38 milhões de animais retirados da natureza por ano
  2. 90% morrem antes de chegar ao comprador
  3. 80% das vítimas são aves, como araras, papagaios e canários
  4. Mais de 300 espécies ameaçadas de extinção envolvidas
  5. Apenas 1% dos traficantes é condenado de forma efetiva
  6. O comércio digital de fauna cresce 20% ao ano, segundo a Renctas

Fonte: Renctas – Relatório Nacional sobre o Tráfico de Animais Silvestres

Quando o tráfico, clima e o desmatamento se encontram

O tráfico de fauna silvestre não é um crime isolado. Ele se entrelaça com práticas como o desmatamento, as queimadas e a grilagem de terras, que abrem caminho para caçadores e atravessadores. De acordo com o MapBiomas Fogo (2024), mais de 70% das áreas queimadas no Brasil eram de vegetação nativa, especialmente nos estados do Pará, Mato Grosso e Tocantins.

Com a destruição dos habitats, os animais fogem em busca de alimento e abrigo e se tornam presas fáceis para o tráfico. A perda de fauna e flora reduz a capacidade das florestas de absorver carbono, altera o regime de chuvas e intensifica o aquecimento global.

O Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) alerta que a extinção e o tráfico de espécies comprometem a estabilidade climática planetária. 

Proteger os animais é proteger o clima.

Entenda mais sobre a relação entre a crise climática e a vida silvestre por meio da nossa campanha Proteção Animal pelo Clima.

Foto: Lucas Landau/Proteção Animal Mundial 

O elo com o sistema alimentar e o consumo humano

O mesmo modelo que transforma animais silvestres em mercadoria também sustenta a pecuária industrial. Segundo o Food Systems NDC Scorecard (2024), 73,7% das emissões brasileiras de gases de efeito estufa estão ligadas à forma como produzimos e consumimos alimentos.

A Proteção Animal Mundial atua para transformar esse sistema, promovendo dietas sustentáveis e éticas, baseadas em alimentos de origem vegetal e agricultura regenerativa. Um futuro com menos sofrimento animal também é um futuro com menos destruição.

Conheça o Manifesto por um Sistema Alimentar Justo e Sustentável

O sofrimento invisível dos animais traficados

Por trás de cada gaiola há uma história de dor. Filhotes são arrancados de suas mães, transportados em caixas ou garrafas, sem comida nem ventilação. Muitos chegam com fraturas, queimaduras e cegueira. Asas são cortadas, dentes extraídos e bicos quebrados para facilitar o manejo.

Apenas um em cada dez animais sobrevive até o destino final. Os sobreviventes vivem em confinamento, com traumas permanentes e doenças. O tráfico também representa um risco à saúde pública, já que o contato com animais silvestres favorece o surgimento de zoonoses (doenças que podem se espalhar globalmente).

Saiba mais: Tráfico de fauna e riscos à saúde pública

Foto: Noelly Castro/Proteção Animal Mundial 

Para onde vão os animais apreendidos em operações contra o tráfico ilegal

Quando as autoridades interceptam o comércio ilegal de fauna, o resgate é apenas o começo de uma longa jornada. O destino desses animais depende de uma estrutura complexa de triagem e cuidados, que ainda enfrenta grandes desafios no Brasil.

De acordo com o Ibama e informações compiladas pela Proteção Animal Mundial (2024), mais de 22 mil animais silvestres foram apreendidos no país em apenas um ano — uma média de 61 indivíduos por dia. Embora expressivo, esse número representa apenas uma pequena fração do tráfico real, estimado em dezenas de milhões de animais capturados anualmente

Centros de Triagem: a primeira parada dos animais

Após as apreensões, os animais são encaminhados aos Centros de Triagem de Animais Silvestres (CETAS), unidades administradas pelo Ibama e por órgãos estaduais de meio ambiente. É nesses centros que ocorre o primeiro atendimento veterinário, a identificação das espécies e a decisão sobre o destino de cada indivíduo.

O processo inclui avaliação clínica, reabilitação e, quando possível, a reintrodução na natureza. Em casos mais complexos, onde há ferimentos graves, dependência alimentar ou perda de comportamento natural, os animais são encaminhados a criadouros científicos, mantenedores de fauna ou zoológicos. O objetivo é sempre priorizar o bem-estar e evitar que retornem ao comércio ilegal.

Espécies mais comuns nos CETAS

As espécies mais frequentemente recebidas pelos centros refletem o perfil do tráfico no Brasil. O canário-da-terra (Sicalis flaveola) lidera o ranking, com cerca de 20 mil indivíduos apreendidos nos últimos quatro anos, o equivalente a cinco mil por ano. Entre os répteis, destacam-se o tigre-d’água (Trachemys dorbigni) e o jabuti-piranga (Chelonoidis carbonaria), com mais de 17 mil indivíduos registrados no mesmo período, sendo 5.367 tigres-d’água e 12.458 jabutis.

Esses animais são frequentemente vendidos como “pets exóticos” e mantidos em condições inadequadas, o que leva a ferimentos, desnutrição e sofrimento crônico. 

Por aqui, temos ajudado em projetos importantes, a exemplo do novo CETAS eO tratamento, recuperação e destinação desses animais são realizados em todo país pela rede de Centros de Triagem de Animais Silvestres (Cetas), que conta com uma nova unidade na Amazônia. A inauguração ocorre no dia 7 de outubro de 2025, em Benevides (PA), na região metropolitana de Belém.

Foto: Marx  Vasconcelos/Proteção Animal Mundial

Os desafios da reintrodução

Reintroduzir um animal silvestre em seu habitat natural é um processo delicado. Muitos não sobrevivem à readaptação ou simplesmente não têm mais território seguro para voltar. O desmatamento, os incêndios florestais e a fragmentação dos ecossistemas reduzem drasticamente as áreas disponíveis para a soltura.

Em alguns casos, os animais acabam permanecendo em cativeiro permanente, sob cuidados de zoológicos ou mantenedores de fauna autorizados. Embora esses locais ofereçam segurança física e alimentação, o confinamento não reproduz a complexidade ambiental de um ecossistema natural. Animais em cativeiro perdem comportamentos essenciais de caça, defesa e reprodução, o que torna sua reintegração cada vez mais difícil.

Como a Proteção Animal Mundial combate o tráfico de fauna

A Proteção Animal Mundial atua de forma integrada em quatro frentes:

  1. Resgate e reabilitação

Apoio direto a CETAS e grupos de resgate.

Mais de 2.500 animais foram tratados e devolvidos à natureza desde 2020.

  1. Incidência política

Atuação junto ao Congresso Nacional e órgãos ambientais pela aprovação de leis mais severas, como o PL 752/2023, que aumenta as penalidades para crimes de tráfico de fauna e fortalece a rastreabilidade das espécies.

  1. Educação e mobilização

Campanhas como Silvestre não é Pet, Vida Silvestre e Proteção Animal pelo Clima engajam milhões de pessoas e incentivam escolhas mais éticas e sustentáveis.

  1. Formação e cooperação

Treinamentos para brigadistas, fiscais e comunidades locais, com foco na prevenção, primeiros socorros à fauna e segurança em campo.

Conheça todas as frentes de atuação: Proteção Animal Mundial Brasil

O que você pode fazer

Cada pessoa pode ajudar a interromper esse ciclo de crueldade.

Pequenas atitudes têm grande impacto:

  1. Nunca compre animais silvestres
  2. Denuncie casos de comércio ilegal ao Ibama (0800 61 8080)
  3. Compartilhe informações e conscientize sua rede
  4. Assine o Manifesto pela Vida Silvestre
  5. Apoie campanhas e projetos de reabilitação
  6. Doe e ajude a devolver a liberdade a animais vítimas do tráfico

Resultados que inspiram mudança

Desde 2020, a Proteção Animal Mundial e seus parceiros:

  1. Protegeram mais de 275 mil animais em situações de risco
  2. Treinaram centenas de profissionais e brigadistas
  3. Apoiaram operações de resgate na Amazônia, Cerrado e Pantanal
  4. Fortaleceram políticas públicas de combate ao tráfico
  5. Engajaram milhões de pessoas em campanhas de conscientização

Cada doação se transforma em medicamentos, equipamentos, combustível e liberdade para quem mais precisa.

 Veja o impacto completo: Transparência e resultados

A liberdade é o verdadeiro lar

O tráfico de animais silvestres é mais do que um crime ambiental. É um espelho do quanto precisamos mudar nossa relação com a natureza. Cada animal devolvido à floresta carrega a memória do que foi destruído e a esperança do que ainda pode renascer.

Proteger a fauna é proteger o planeta, o clima e a nossa própria existência.

A liberdade deles é o nosso futuro. 

O comércio de animais silvestres é uma atividade lucrativa que gera terríveis consequências para o bem-estar animal e a conservação das espécies, além de representar riscos para a saúde pública. Assine o nosso compromisso e compartilhe com amigos e familiares.

Para mais informações sobre o problema, confira nosso relatório “Crueldade a venda".

Continue explorando o tema

Conheça histórias reais, ações de resgate e conteúdos em nosso instagram que ajudam a compreender a dimensão do tráfico de animais silvestres e como a Proteção Animal Mundial atua para combater esse crime e devolver a liberdade à fauna.

O tráfico de animais é o terceiro maior do mundo

O tráfico de animais é o terceiro maior comércio ilegal do planeta, atrás apenas do tráfico de drogas e armas. Mais de 100 mil animais silvestres são traficados por ano no Brasil, sofrendo maus-tratos, fome e privação de liberdade.

O Brasil é um dos países que mais sofre com o tráfico de animais silvestres

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Galos-de-campina resgatados do tráfico ganham liberdade

Reel comovente sobre o resgate e a soltura de 48 galos-de-campina (Paroaria dominicana) na Bahia. Um exemplo de sucesso na luta contra o tráfico e a favor da liberdade dos animais silvestres.

Observar à distância é o maior respeito

Respeitar a vida silvestre é também manter distância. Conheça esta campanha educativa que conscientiza sobre a importância de não capturar nem manter animais silvestres como pets.

O tráfico de fauna é o terceiro maior crime ambiental

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O tráfico de fauna: consequências ecológicas

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Todos os dias, milhões de animais sofrem com abandono, exploração e tráfico. Veja como doações se transformam em impacto real para proteger e reabilitar esses animais.

Animais selvagens não são pets

Reel educativo que reforça: animais selvagens pertencem à natureza, não a gaiolas. A Proteção Animal Mundial atua com capacitação técnica e informação local para prevenir tragédias e reduzir o tráfico.

De volta ao mar: tartaruga resgatada

Uma tartaruga-cabeçuda foi devolvida ao mar após reabilitação em João Pessoa (PB). Um exemplo do trabalho conjunto de resgate e soltura realizado com o Ibama e organizações parceiras.

Já encontrou algum de nós?

Conheça o projeto que prevê passagens seguras para animais silvestres e combate atropelamentos em rodovias. Uma iniciativa que também protege espécies ameaçadas pelo tráfico e pela perda de habitat.

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