Dia Internacional da Onça-Pintada: Siron Franco destaca o animal em projeção na cúpula do Museu da República (DF)
Comunicado de imprensa
Obra utiliza técnica de vídeo mapping para fazer homenagem e pedir atenção ao maior felino das Américas. Proteção Animal Mundial, Instituto Homem Pantaneiro e parceiros apoiaram trabalho do artista plástico na coleta de registros audiovisuais. Confira entrevista com o autor e saiba mais sobre a onça-pintada
São Paulo, 29 de novembro de 2021 – O dia 29 de novembro marca internacionalmente o momento de lembrar, admirar e lutar pela proteção da onça-pintada (Panthera Onca). Neste espírito de alerta e homenagem, a Proteção Animal Mundial, organização não-governamental que trabalha em prol do bem-estar animal, atendeu à solicitação do artista plástico Siron Franco para colaborar para a instalação “Onça-Pintada”, exibida durante a noite de hoje, com projeções de vídeo mapping na cúpula do Museu da República, em Brasília (DF). A ONG cedeu imagens e vídeos de seu acervo e fez a ponte com outros parceiros, como o Instituto Homem Pantaneiro, que também forneceu material próprio e de sua rede de relacionamento, incluindo Isa Ceteep e Panthera.
Confira reportagem com vídeo da obra "Onça-Pintada" de Siron Franco
Por sua presença e importância ecológica milenar, o animal faz parte do imaginário ancestral e possui status destacado em cultos, mitos e lendas de povos nativos. Apesar de temidas, as onças costumam fugir de seres humanos. Também conhecida como jaguar, a onça-pintada é o terceiro maior felino do mundo, atrás do tigre e do leão, e é o maior do continente americano, no qual pode ser encontrado em regiões desde o norte do México até o norte da Argentina, o que corresponde a cerca de 40% de sua distribuição original.
Como um todo, a espécie está atualmente classificada como Quase-Ameaçada pela União Internacional para a Conservação da Natureza e dos Recursos Naturais (IUCN, na sigla em Inglês). No Brasil, entretanto, na última edição do Livro Vermelho da Fauna Brasileira Ameaçada de Extinção, de 2018, elaborado pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), o animal aparece em situação pior, listado como Vulnerável.
No Brasil, a maior população do animal está na Amazônia, mas é no Pantanal que ele encontra condições que mais lhe favorecem (inclusive à reprodução) e pode ser avistado com maior facilidade. Tal fato abre um enorme potencial para o turismo, quando realizado de forma segura e sustentável, para a geração sustentável de receitas. Por ser um predador do topo da cadeia nos biomas em que ocorre, é um símbolo de biodiversidade, de conservação e de equilíbrio ecossistêmico.
Mas o ciclo de queimadas e secas cada vez mais frequentes no Brasil, em especial no Pantanal e no Cerrado, o que gerou registros dramáticos de onças-pintadas mortas e feridas pelo fogo, transformou o animal também em uma espécie de símbolo global do avanço da destruição humana impulsionada pelo agronegócio e abertura de novas áreas para pastagens e o cultivo de soja para a produção de ração animal.
No Brasil e no continente em geral, este processo reforça a ameaça ao grande felino por parte de outras atividades mais furtivas, mas extremamente danosas: a caça ilegal e o tráfico internacional de vida silvestre. Em 2018 uma investigação da Proteção Animal Mundial apontou para o extermínio de onças e o abastecimento, via tráfico, de um mercado global de produtos para supostos fins medicinais, ornamentos de luxo e alimentação. Um outro relatório recente, com etapas de apuração em 2017 e neste ano, mostrou como um mercado público no Peru, localizado próximo da tríplice fronteira com Brasil e Colômbia, retomou rapidamente atividades durante a pandemia de Covid-19, incluindo o comércio ilegal de vida selvagem e envolvendo onças e jaguatiricas, entre cerca de 200 espécies no total. Atualmente, segue em curso a campanha #MeDeixaSerSelvagem, que pede às lideranças políticas atitudes firme pelo completo banimento do comércio internacional de vida silvestre, tanto por razões de conservação quanto de saúde pública, entre outras.
Siron Franco
Ao longo de uma extensa e aclamada carreira pictórica, o artista goiano Siron Franco nunca se aquietou. Curiosidade, transformação e paixão sempre foram suas marcas. Entre as diversas vertentes a que direcionou seu interesse, as temáticas sociais e ambientais estão há muito presentes, em particular por meio de instalações que exploram a sensibilização de públicos e o interesse de meios de massa que potencializam as mensagens.
Muitos exemplos de foco na vida silvestre são possíveis. Ainda na década de 1980, 60 antas gigantes de gesso foram instaladas na Esplanada dos Ministérios para alertar sobre os riscos para o animal. Na 20ª Bienal de São Paulo (1989), onças-pintadas que compunham a instalação do artista e que faziam alusão a uma gigantesca apreensão de peles que havia sido noticiada fizeram grande sucesso com os visitantes, especialmente o público infantil. O animal também inspirou a série de pinturas “Peles” na década seguinte.
Mais recentemente, durante a conferência Rio+20 (2012), Siron Franco montou a exposição “Brasil Cerrado” no Museu de Arte Moderna da capital carioca para mostrar as belezas do bioma e denunciar as agressões. O próprio Museu da República já se tornou um suporte para as projeções do artista: “Santo Graal”, em 2017/2018, tratando da importância da preservação da água, e em 2019, em celebração ao Dia do Cerrado, novamente revistando a importância da preservação do bioma.
A partir desse histórico e aproveitando da colaboração para a mais nova intervenção, a equipe da Proteção Animal Mundial fez uma breve entrevista com Siron Franco para saber de sua relação com os animais e sobre eles permeiam suas ideias e obras.
Proteção Animal Mundial: Fauna e flora aparecem com recorrência no seu trabalho. Mas nossa curiosidade inicial é de um ponto de vista bem pessoal: qual a importância e o papel dos animais na sua vida?
Siron Franco: A importância dos animais da minha vida... Eu não consigo lembrar de quando não houve. Eu nasci em Goiás Velho, antiga capital (do estado de Goiás), hoje patrimônio cultural da humanidade, uma cidade barroca, colonial, muito interessante. E ali era repleto de bichos. Meu pai também me levou pro Pantanal muito cedo. E... sabe que eu nunca pensei – engraçado – nisso, mas os animais sempre foram muito presentes. Tanto é que eu tenho uma filha que é veterinária, todos os meus filhos gostam muito de animais, sobretudo de cachorro, enfim todo tipo de bicho. E eu sempre tive ateliê na chácara. Tenho um fascínio incrível (pelos animais)!
Proteção Animal Mundial: Bem no início da recente cinebiografia Tempo Sobre Tela vemos você comentando sobre o que é ser selvagem: “fazer o que teu coração te pede”. Como vê o fato de hoje ser ainda tão frequente a negação de liberdade intrínseca à vida silvestre e a exploração de animais?
Siron Franco: Me pai me falou muito cedo.... Ele me via filmando, né? Eu tinha uma super oito. Ele me via envolvido. Eu tinha um tio também que era um fotógrafo lambe-lambe e eu vibrava com aqueles negativos em vidro, sabe? Foi uma influência muito incrível. E ele um dia me falou que “a vida da gente é um filme em que a gente é diretor, também é espectador e é o ator principal”. Você pode fazer um filme de terror ou um filme maravilhoso da sua vida. Eu nunca esqueci isso.
É um absurdo (a exploração de animais). Eu, (desde) quando era garoto, tinha pena. Achava muito triste aqueles macacos vestidos de gente. Aqueles elefantes, né? O que é um condicionamento. Depois descobri que alguns usam chapa de ferro esquentado e colocam uma música, né? Passo do elefantinho, por exemplo. Aí depois algum tempo você toca a música e ele levanta o pé porque tem o reflexo condicionado. É muito triste. Na verdade, tudo tem a ver com educação. As pessoas acham que só elas têm (importância), que nada mais tem importância, né? Bom, eu também sempre admirei o budismo, e o budismo trata também disso. Toda espécie tem direito à vida.
Proteção Animal Mundial: Amazônia, Pantanal e Cerrado cada vez mais perdem cobertura nativa diante do avanço do desmatamento - legal e ilegal - para a criação de pastos e de vastas áreas de monocultura de soja. Perda de habitat, secas prologadas e queimadas recorde se tornaram comuns. Tudo isso impulsionado por um sistema que dissemina a ideia de que a economia e a crescente população mundial não têm alternativa que não seja uma alimentação baseada em carne produzida a baixo custo. Você vê solução para essa equação?
Siron Franco: Isso é um processo que começou já há muito tempo. É muito complexo, é uma situação complexa. Envolve, a meu ver, bom senso. Acreditar na ciência e ter compaixão, porque tem muita terra. Não precisa desmatar. Agora, eu não sou da área, não tenho conhecimento, eu sou um leitor, vejo as notícias. Mas acho que a humanidade tem que dar uma olhada para ela mesma, entende? O que é que nós estamos querendo criar, entendeu?
Se tiver uma geração no futuro, (uma geração) assim legal, essa geração vai ter raiva da gente. Vai achar que éramos monstros. Porque geramos lixos, fomos violentos, envenenamos os rios. Agora mesmo fiquei lembrando do meu pai... Ele estava vendo o noticiário em 1960. Muitos empresários, pequenos, médios vendiam as lojinhas deles e se mandavam para o Rio Madeira atrás de ouro, né? Está voltando a mesma coisa! Meu pai falou uma coisa para mim que eu nunca esqueci: o negócio não é ouro, o negócio é a água.
Proteção Animal Mundial: Com o tempo cada vez mais curto para agirmos, como a arte pode contribuir para uma mudança de perspectiva e para a adoção de sistemas mais éticos, sustentáveis e que garanta um futuro para animais, humanos e meio ambiente? Você crê que as tentativas de limitação à liberdade artística são mais um sinal de que o modelo atual “sente o golpe” ou que são símbolo de fortaleza reacionária?
Siron Franco: Acho sim que são símbolos dessa fortaleza reacionária. Eu acho que são, porque eu não acho que a arte em si ela muda. A arte é um elemento para que você mude, né? Arte me toca e eu vou reagir.
Agora isso implica sempre, eu acho, em políticas públicas. Sobretudo educação, saúde. E também eu acho que a questão é assim de ter um olhar, entendeu? A humanidade (precisa ter) um olhar mais poético. Não é só “eu ganho, eu ganho”. Não sei onde é que isso chega. Isso não chega em lugar nenhum, isso não tem fim. Tem que vir uma humanidade mais solidária, que não vê o outro como inimigo. Não tem essa história de umbigo. Nós estamos no mesmo barco. Bahá'u'lláh, o profeta Bahá'í, diz: a terra é um só país, e os seres humanos são os cidadãos.